O termo "paciente zero" ou "caso índice" é usado para descrever as vítimas de epidemias que parecem terem sido as primeiras a ser devidamente documentadas como portadoras da infecção. No entanto, nem sempre é fácil rastrear as origens das pandemias mais mortíferas do mundo.
Apesar de se acreditar agora que os primeiros casos do SARS-CoV-2 foram notificados, segundo alguns relatos recentes, na província chinesa de Hubei talvez já a 17 de novembro último, o "paciente zero" do novo coronavírus ainda não foi oficialmente confirmado.
Mas existem alguns casos na história em que os primeiros portadores de doenças infecciosas foram bem documentados.
Febre tifoide
A cozinheira irlandesa Mary Mallon ficou conhecida como a pessoa que espalhou a febre tifoide entre as famílias para as quais trabalhava no início do século XX nos EUA, apesar de ter sido avisada pelas autoridades de saúde de que não deveria sequer se aproximar de uma cozinha.
Era a bactéria tifoide na vesícula biliar de Mary, que ela foi aconselhada a remover, que estava causando mortes entre seus patrões, mas a mulher não acreditava ser a portadora da doença e se recusava a dar uma amostra de urina para testes.
Depois de ser colocada em quarentena e 1907, e libertada em 1910, ela voltou secretamente ao seu trabalho como cozinheira, apesar de instruções em contrário, e causou ondas de infecções onde quer que trabalhasse.
Depois disso, em 1915 ela foi colocada à força em quarentena na Ilha North Brother, Nova York, para o resto de sua vida. Com a sua morte, foi confirmado que a vesícula biliar de Mary Mallon realmente continha bactérias tifoides.
'Paciente Zero' do HIV?
O hospedeiro Gaetan Dugas teria sido em tempos o primeiro homem a espalhar o vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla em inglês) em Los Angeles e São Francisco, EUA, nos anos 70.
Embora esta hipótese tenha sido posteriormente contestada por muitos pesquisadores, que argumentaram que Dugas não era a fonte do vírus nos EUA, a sua história foi na verdade responsável pela origem do termo "Paciente Zero", pois foi ele quem recebeu o codinome "Paciente O" para indicar como "Fora da Califórnia [Out-of-California]".
Alguns anos mais tarde confundiram a letra "O" com o número "zero".
Vírus do ebola no Zaire
Em 1976, Mabalo Lokela, um professor do norte do Zaire, no que é hoje a República Democrática do Congo, voltou para casa depois de uma viagem ao rio Ebola e começou a apresentar estranhos sintomas que os médicos locais tomaram pela primeira vez como malária.
Depois que sua condição piorou e ele acabou morrendo, aqueles que tinham estado em contato com ele, incluindo freiras belgas de um hospital local que não estavam esterilizando adequadamente os instrumentos médicos, também acabaram adoecendo.
O surto inicial no Zaire permaneceu localizado, com apenas várias centenas de mortes.
Gripe espanhola de 1918
O surto mais mortal e mais conhecido foi a pandemia de gripe espanhola em 1918, que causou entre 17 e 100 milhões de mortes, de acordo com várias estimativas. Nos EUA, o "paciente zero" foi reportado como sendo Albert Gitchell, um cozinheiro de uma instalação militar norte-americana no estado do Kansas.
Ele adoeceu oficialmente em 4 de março de 1918, mas aparentemente já tinha começado a apresentar sintomas de gripe quando estava trabalhando, infectando assim centenas de pessoas.
Os soldados que viajaram da base para diferentes locais ao redor do mundo no final da Primeira Guerra Mundial, incluindo a Europa, estavam, portanto, espalhando a doença.
O próprio Gitchell sobreviveu à pandemia e morreu 50 anos depois, aos 78 anos de idade.
Surto de gripe suína
Edgar Hernandez, de cinco anos de idade, de uma aldeia montanhosa no México, é considerado por alguns pesquisadores o "paciente zero" do surto de gripe suína, ou H1N1, em 2009, embora muitos tenham contestado essa hipótese. A mãe de Edgar alegou que era a fazenda de porcos local que deveria ser responsabilizada pela doença de seu filho.
Felizmente, o garoto recuperou totalmente. Milhares de outras vítimas do vírus em todo o mundo não tiveram tanta sorte.