Devido a sua forma aventureira de combater a COVID-19 sem quarentena, a Suécia tem sido vista como um teste do funcionamento da abordagem da chamada imunidade de grupo.
Bjorn Olsen, professor de doenças infecciosas da Universidade de Uppsala, Suécia, que tem criticado a estratégia sueca de não confinamento contra o coronavírus desde seu início, pediu mais uma vez às autoridades que repensem sua abordagem, com referência a um extenso estudo espanhol que é visto como um duro golpe à ideia de imunidade de grupo.
Conclusões do estudo
O extenso estudo refere que apenas 5% das mais de 60.000 pessoas testadas desenvolveram anticorpos para o novo coronavírus. Entre os profissionais de saúde a proporção é de cerca de 20 a 25%, apesar de a Espanha ter de longe a maior proporção de médicos e profissionais de saúde infectados do mundo.
Os dados estimularam os especialistas espanhóis a descartar completamente a ideia de imunidade de grupo.
"Temos que perceber que se uma frequência de infecção que parece ser de quase 5% da população tem causado tal estrago, uma frequência de 60% seria absolutamente catastrófica", afirma o médico Joan Ramón Villabí ao jornal espanhol El País.
Olsen chamou de confiável o estudo espanhol "incrivelmente abrangente" e estando em linha com o que foi visto anteriormente em Wuhan, na China.
"Devemos mudar nossa estratégia, testar mais pessoas e colocar em quarentena os infectados. Caso contrário, isto continuará e mais pessoas morrerão desnecessariamente", disse Olsen ao jornal Expressen.
Tove Fall, epidemiologista da Universidade de Uppsala, alertou que o estudo não augurava nada de bom para a Suécia.
"A Espanha é um dos países mais duramente atingidos do mundo. O fato de eles terem tão baixas proporções não é uma boa notícia para nós", avisou Tove Fall em declarações à emissora nacional SVT.
Mais críticas
A estratégia sueca tem sido amplamente criticada entre jornalistas e formadores de opinião, com Ivar Arpi do Svenska Dagbladet, um dos maiores diários do país, perguntando: "Quantos devem morrer em prol da imunidade de grupo?"
A própria Organização Mundial da Saúde enfatizou que relativamente poucas pessoas têm ou desenvolveram anticorpos, alertando para uma longa batalha pela frente e advertindo contra a aposta na imunidade de grupo.
O modelo sueco de lidar com a epidemia do coronavírus sem confinamentos e em um modo de vida normal, também tem sido admoestado no exterior. Entre outros, o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki chamou o modelo sueco de "darwinista" e enfatizou que a Polônia ainda nem pensou em introduzi-lo.
Na mídia polonesa, a Suécia é usada como um exemplo assustador, com um alto número de mortes evitáveis e triagem para classificar os pacientes com melhores chances de sobrevivência.
O Reino Unido também pensou inicialmente seguir o modelo de não-intervenção direta da Suécia, mas o elevado número de mortes e os argumentos dos cientistas levaram o premiê Boris Johnson a abandonar a experiência. O presidente norte-americano Donald Trump considerou os suecos disciplinados em comparação com os EUA, mas diz que estão pagando um preço elevado pelo caminho que escolheram.
Resultados da abordagem
As autoridades suecas têm repetidamente saudado a "imunidade de rebanho" como o meio decisivo para deter a propagação do novo coronavírus. Embora o pré-requisito para que a imunidade de grupo funcione seja entre 40 e 60%, um novo estudo da Autoridade Nacional da Saúde Pública da Suécia indicou que menos de 1% da população tinha uma infecção ativa no final de abril.
O número correspondente em Estocolmo, a cidade mais afetada do país, era de 2,3%. Entretanto, as autoridades suecas mudaram seu prognóstico inicial de atingir a imunidade de maio para meados de junho.
Confiando principalmente nas restrições voluntárias, a Suécia tem visto até agora quase 30.000 casos confirmados e mais de 3.600 mortes, de acordo com a Universidade Johns Hopkings, EUA.