Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o governador de São Paulo João Doria culpou Bolsonaro pelo que chamou de "dupla comunicação para a opinião pública". Se de um lado governadores e prefeitos se esforçam em prol do distanciamento pela saúde da população, o presidente faz o inverso.
"O governo federal, por meio do presidente da República, orienta exatamente o inverso. [O presidente] não usa máscaras quando deveria utilizar, promove aglomerações, se pronuncia contrariamente ao isolamento, classifica o coronavírus de uma gripezinha e resfriadozinho, e em vez de estar em casa se diverte, passeando de jet-ski, fazendo exercício de tiro, promovendo churrasco ou tendo a intenção de fazê-lo", criticou Doria.
O governador paulista ainda declarou que o racha político hoje vivido pelo país "é tudo o que o Brasil não precisava", mas acaba sendo fruto de um país "conflagrado por um presidente da República que estimula a conflagração, gosta da conflagração, ou seja, estimula o confronto, até como forma de sobrevivência".
"[A maior dificuldade é] enfrentar os dois vírus: o coronavírus e o 'Bolsonaro vírus'. Não sei qual é pior", continuou o tucano, que ainda declarou estar arrependido da aliança que fez com o atual presidente nas eleições de 2018, na parceria que ficou conhecida como "Bolsodoria".
"Não tinha a ideia de que o então candidato Jair Bolsonaro, que falava de uma política liberal, de uma economia liberal, que eu defendo, e falava também no programa transformador e de transparência no País - tendo convidado já naquele tempo, manifestado interesse em ter Sergio Moro com um integrante da sua equipe. Eu tinha uma visão de esperança. Em menos de dois meses, percebi claramente que aquilo era falso", defendeu-se.
São Paulo segue na liderança de notificações oficiais de casos e óbitos da COVID-19 no Brasil, o que torna cada vez mais provável a necessidade de um lockdown – a mais severa medida de isolamento social possível, em caráter compulsório – em todo o estado. De acordo com Doria, o planejamento já está pronto.
"Não haverá nenhuma decisão de ordem política nem de inibir e nem de aplicar, exceto aquela determinada pela saúde [...]. Seria o nível de isolamento próximo do absoluto. Só se deslocam quem está em áreas de absoluta necessidade: segurança pública, saúde, serviços básicos, como luz, telefone, água, transporte público, e abastecimento, como farmácias e supermercados. É um isolamento mais duro e mais rigoroso", adiantou.
Não há, entretanto, nenhuma previsão de quando a medida será tomada pelo Palácio dos Bandeirantes. Já sobre 2021, Doria arriscou uma previsão: para ele, o Brasil será um país "muito entristecido e machucado", sobretudo pela "falta de liderança" e "por ter um presidente que não tem compaixão".