A tensão está aumentando no Caribe depois que os EUA anunciaram o envio da Marinha para junto da Venezuela. Recentemente, cinco navios iranianos carregando gasolina zarparam para abastecer o país sul-americano.
O Ministério das Relações Exteriores iraniano advertiu os Estados Unidos que qualquer ataque aos seus petroleiros seria "ilegal, perigoso e provocativo" e que se reserva o direito de tomar as medidas apropriadas para responder a qualquer agressão.
Enquanto isso, o presidente Nicolás Maduro ordenou o início dos exercícios militares Escudo Bolivariano Caribe I na ilha de Orchila e o ministro da Defesa, Vladimir Padrino Lopez, informou que as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) iriam proteger as embarcações logo que elas entrem em águas venezuelanas.
Seria profecia?
Há pouco mais de um ano, o internacionalista Martín Pulgar fez uma reflexão que, na situação atual, parece virar realidade.
"Devemos lembrar que os Estados Unidos se tornaram um império através do controle do Caribe. Eles se consideram um império através do que eles chamam de Mediterrâneo americano. Se você não controla e domina seu espaço exterior próximo, você não é uma potência, você perde peso na geopolítica mundial", afirmou.
Para Pulgar era claro que uma situação tão extraordinária como a do Irã e da Venezuela gerando um desafio semelhante só poderia significar uma coisa: "O fim do império, visto como tal por eles."
O plano de cercar a Venezuela no Caribe foi exposto em uma reunião secreta do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), realizada em 10 de abril de 2019.
Fernando Cutz, que fez parte do Conselho de Segurança Nacional do Grupo Cohen, aconselhou o embaixador norte-americano William Brownfield sobre uma estratégia para "dividir o círculo interno de Nicolás Maduro", informou Blumenthal na época.
Cutz foi sempre claro sobre a estratégia, dizendo que no caso venezuelano "uma invasão não é possível, mas algo de baixa intensidade, como um bloqueio naval, talvez sirva para sair dessa situação de impasse", disse ele.
Para Carlos Machado, cientista político e chefe da sala de situação do Observatório Internacional da Juventude e Estudantes da Venezuela, a ideia do bloqueio não é apenas um exercício de pressão sobre a Venezuela, mas é usada justamente para tornar explícito o poder dos Estados Unidos no hemisfério, diz à Sputnik Mundo.
"Se o levarmos ao contexto do oceano Atlântico, é possível ver como a influência exercida pelos Estados Unidos desde sua costa sul em direção ao mar do Caribe, já que do ponto de vista do teórico Alfred Mahan, o país norte-americano deve preservar o golfo do México e o mar do Caribe como zonas exclusivamente dos EUA e também deve evitar por qualquer meio o domínio de qualquer outra potência estrangeira", diz ele.
A chegada iminente dos navios iranianos à Venezuela levou a que, nas palavras de Machado, "o governo dos Estados Unidos se começasse pronunciar de forma desenfreada, já que para eles está sendo violado seu espaço vital, e ao mesmo tempo caem no dilema de entrarem ou não em conflito direto com o Irã [...] É preciso ressaltar que a guerra a nível naval envolve muito desgaste e os dois exércitos estão muito bem equipados".
Agressão indireta?
Nicolás Goschenko Spokoiski, comodoro sênior e presidente da Organização de Salvamento e Segurança Marítima dos Espaços Aquáticos da República Bolivariana da Venezuela, afirma sem rodeios que, além de seus desejos, "os Estados Unidos não têm o poder de impedir a entrada dos navios iranianos".
Na opinião de Goschenko, os Estados Unidos sempre evitaram travar guerras abertas perto de suas fronteiras. Na quinta-feira (14) o militar forneceu localizações de diversas forças militares da OTAN em, ou perto de, Cuba, Jamaica, República Dominicana, Bahamas e Nicarágua.
Além de "mostrar músculos" através dos destacamentos, o analista Carlos Machado acredita que os Estados Unidos não têm outra escolha senão optar por medidas de sanções administrativas e comerciais contra as embarcações. Isso significa continuar a exercer pressão não por agressão militar direta, mas por medidas coercitivas unilaterais que dificultam ainda mais o estabelecimento de relações de livre comércio entre os dois países.
Machado explica as dificuldades que o país norte-americano enfrenta em tentar romper o "círculo" sem forçar consequências de maior.
"[...] Para que os planos sejam implementados, e mais ainda, para serem bem-sucedidos, muitas outras circunstâncias devem ocorrer. Uma delas, e é aquela em que os militares e políticos em Washington devem estar pensando mais, é: vamos impedir que um avião ou navio russo, chinês, iraniano ou turco entre na Venezuela com alimentos e medicamentos?"
"E se a resposta for positiva, uma pergunta final e muito importante surgiria: como o fariam? Não é nada fácil ver a face da Terceira Guerra Mundial, não é mesmo?", conclui.