Como seu colega norte-americano Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro divulgou os supostos benefícios da hidroxicloroquina e um medicamento relacionado, a cloroquina, contra o novo coronavírus.
No entanto, estudos científicos questionaram sua segurança e eficácia contra a doença, incluindo uma publicada na sexta-feira (22) na respeitada revista médica The Lancet, que descobriu que as drogas realmente aumentavam o risco de morte.
Isso levou a OMS a suspender um ensaio clínico mundial de hidroxicloroquina como tratamento com COVID-19 nesta segunda-feira (25).
"Estamos calmos e não haverá mudanças na diretriz brasileira divulgada na semana passada", afirmou a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, em entrevista coletiva.
A diretriz do ministério recomendou que os médicos do sistema público de saúde prescrevam cloroquina ou hidroxicloroquina desde o início dos sintomas do COVID-19.
A posição foi emitida logo após a renúncia do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, que não resistiu à insistência de Bolsonaro em receitar os medicamentos, apesar da falta de evidências sólidas. Ele foi o segundo ministro a deixar a pasta em menos de um mês.
O Brasil, o país latino-americano mais atingido pela pandemia, emergiu como o mais recente ponto de infecções, com quase 375 mil casos - o segundo mais alto do mundo, depois dos Estados Unidos - e mais de 23 mil mortes.
Especialistas explicam sempre que a alta subnotificação no Brasil significa que os números reais provavelmente são muito mais altos.
A hidroxicloroquina é normalmente usada para tratar doenças autoimunes, enquanto a cloroquina é geralmente usada contra a malária. Estudos preliminares na China e na França geraram esperança de que os medicamentos pudessem ser eficazes contra o novo coronavírus.
Isso levou os governos a comprá-los a granel. Trump chegou a dizer na semana passada que estava tomando a hidroxicloroquina como medida preventiva, embora tenha dito no domingo (24) que havia terminado o tratamento.
Pinheiro questionou o estudo da revista Lancet, que analisou os registros médicos de 96 mil pacientes em centenas de hospitais.
"Não foi um ensaio clínico, foi apenas um conjunto de dados coletados de diferentes países e que não atende aos critérios de um estudo metodologicamente aceitável para servir de referência para qualquer país do mundo, incluindo o Brasil", avaliou ela.