A Revisão de Estabilidade Financeira de maio de 2020 do BCE sugere que a vasta resposta fiscal dos governos do euro à pandemia poderia levantar questões sobre sua capacidade de pagar dívidas e reviver a ameaça de países que abandonam a moeda única.
"Se as medidas adotadas em nível nacional ou europeu forem consideradas insuficientes para preservar a sustentabilidade da dívida, a avaliação de mercado do risco de nova nominação poderá aumentar ainda mais", afirmou o BCE.
"Risco de nova denominação" refere-se ao perigo de alguns países deixarem o euro ou a moeda única entrar em colapso.
Segundo estimativas do BCE, a dívida pública da zona do euro como parcela da produção crescerá entre 7% e 22% em 2020, à medida que os governos emprestam centenas de bilhões de euros para apoiar suas economias. Isso elevou a relação dívida/PIB total da região de 86% para quase 103%.
Geralmente, os países da zona do euro têm como alvo a dívida pública abaixo de 60%, mas esse limite foi suspenso durante a crise do novo coronavírus. No entanto, o BCE enfatizou que os gastos do governo "amenizaram o impacto e espera-se que apoiem a recuperação econômica".
"A pandemia causou uma das mais severas contrações econômicas da história recente, mas medidas políticas abrangentes evitaram um colapso financeiro", avaliou o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos.
"No entanto, as repercussões da pandemia nas perspectivas de rentabilidade bancária e nas finanças públicas de médio prazo precisarão ser abordadas para que nosso sistema financeiro possa continuar apoiando a recuperação econômica", acrescentou.
O regulador observou que as diferenças entre os rendimentos da dívida dos países "podem aumentar se os investidores avaliarem que a sustentabilidade da dívida pública se deteriorou".
"Uma contração econômica mais severa e prolongada do que a prevista [...] arriscaria colocar a relação dívida pública/PIB em um caminho insustentável", provocando temores de uma "cascata" no restante da economia, afirmou o BCE.
Segundo o BCE, as avaliações bancárias em toda a região caíram para níveis mínimos e os custos de financiamento aumentaram. Espera-se agora que o retorno sobre o patrimônio dos bancos da área do euro em 2020 seja "significativamente menor" do que era antes da pandemia.
A autoridade de supervisão bancária do BCE recomendou que os bancos se abstivessem temporariamente de "pagar dividendos ou recomprar ações, fortalecendo sua capacidade de absorver perdas e evitar a desalavancagem". Espera-se que essas medidas de capital permaneçam em vigor até que a recuperação econômica esteja "bem estabelecida", completou o relatório do BCE.