O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo 15), considerado prévia da inflação oficial (IPCA), fechou em -0,59% em maio, após encerrar abril em -0,01%. É a maior deflação desde o início do Plano Real, em julho de 1994.
No ano, o IPCA-15 acumula alta de 0,35%. A última previsão do mercado, publicada no Boletim Focus do dia 25 de maio, é de inflação de 1,48% ao ano, queda de 0,20% em relação à projeção da semana anterior.
A meta do governo para 2020, fixada pelo Conselho Monetário Nacional, é de alta de preços de 4%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual, podendo ir de 2,5% até 5,5%.
Para o economista Agostinho Celso Pascalicchio, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, "a inflação deixou de ser o vilão da economia brasileira", pois a "maior preocupação hoje é com o crescimento".
'É muito pior'
Segundo ele, é possível que em outros meses de 2020 "a gente venha a ter deflação", o que, aliado à crise do coronavírus, pode ser catastrófico.
"A perspectiva não é apenas de uma recessão, é muito pior: nesse momento é de uma depressão econômica. É grave essa combinação de depressão com deflação, uma vez que retira totalmente o estimulo ao desenvolvimento econômico. Portanto, devemos estar atentos e tomar medidas adequadas para evitar essa combinação", alertou o especialista.
Segundo o economista, a diminuição da inflação não é apenas "consequência da queda do preço das commodities, como, por exemplo, do petróleo, que afeta e causa uma baixa no preço da gasolina, mas também da redução nos gastos das famílias, em função da quarentena".
Para minimizar o problema, Pascalicchio sugere um Banco Central mais "agressivo". As ações para enfrentar a recessão, segundo ele, "dependem inicialmente do governo".
'Participação de agentes institucionais'
"Talvez um Banco Central mais agressivo, que deixe de ter aquela função tradicional de combater a inflação, e passe a tomar medidas que promovam um crescimento econômico", afirmou.
Além disso, disse que é preciso um "programa de estímulo às obras básico", com participação de "agentes institucionais adequados", como o próprio Banco Central e o BNDES.
O economista Istvan Kasznar, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e da EBAPE (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas), diz que a queda de demanda gerada pela crise do coronavírus têm reflexos nos preços.
"As pessoas e famílias repensaram seus orçamentos. Onde gastar, como gastar, decidiram poupar um pouco por precaução. Com essa redução de demanda, não havia necessidade de fazer estoque, nem tampouco de aumentar a produção. Isso significa que os produtores tiveram que reduzir preços. A taxa de inflação tende a ser menor do que recentemente tivemos" explicou à Sputnik Brasil.
Setores na contramão da deflação
Por outro lado, Kasznar afirma que essa queda de preços não atinge necessariamente todos os setores.
"É preciso tomar muito cuidado, pois há muito serviços e bens que tiveram uma disparada de preço, como mercadorias associadas a medicamentos, fármacos, kits de cuidados pessoais, então a gente tem que ser muito atento ao fato de que, enquanto certos preços caíram, outros preços subiram. E isso não necessariamente se reflete na inflação oficial", disse.
Apesar disso, ele admite que em função do "choque econômico os preços despencam, e poderão cair ainda mais em certos setores da economia".
"Mas isso não significa que após uma recuperação econômica, uma reabertura, uma retomada para valer, os preços não voltem a subir", acrescentou.
Para Kasznar, a deflação pode ser "momentânea", e o "Brasil possui uma base econômica razoável, tem meios para gerar uma retomada, porque a demanda agregada é elevada, o mercado interno é muito grande, temos 220 milhões de brasileiros que querem de tudo".
Carência de investimento
Mas o economista faz um alerta para a falta de "vontade de criar investimento no país", o que dificulta a geração de "empregos, renda, riqueza e mais impostos", que pode levar a uma "recessão" e, no "pior dos mundos", a uma "depressão".
"Os projetos estão vindo lá na frente, se conseguirmos sair dessa pandemia de uma maneira administrada, correta e sem uma gigantesca mortandade", afirmou Kasznar.