Durante coletiva de imprensa em Brasília na terça-feira (26), os ministros generais Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, negaram que haja influência política do Exército sobre o governo brasileiro.
Para o cientista político Antônio Marcelo Jackson, professor do Departamento de Educação e Tecnologias da Universidade Federal de Ouro Preto, os militares no governo de Bolsonaro não representam o Exército na administração e sequer poderiam admitir tal posição.
"Se você afirma com todas as letras que o governo ou um grupo - no caso seria o grupo dos militares - que eles exercem uma influência sobre o Bolsonaro, poderiam classificar isso como diversos problemas", diz o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
"De fato, [seria] uma coisa completamente ilegal, porque você teria um seguimento do próprio Estado brasileiro, que seriam as Forças Armadas, fazendo com o que o governo agisse em prol dos seus interesses particulares", aponta.
Já sobre a presença crescente de militares na administração federal, o pesquisador avalia que essa seria uma consequência da biografia de Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército, apesar de ter sido expulso da instituição.
Jackson afirma que durante a carreira como deputado federal, Bolsonaro era pouco atuante e que a principal experiência profissional que o atual presidente teve foi como militar.
"É natural, que como ele não tem vínculo nem circulação em meios acadêmicos, não tem circulação na área de pesquisas, não tem circulação no meio político, ora, naturalmente ele busca aquilo que é a única coisa que ele conhece: o Exército", afirma.
O cientista político acredita que a origem dos ministros militares ser justamente o Exército valida ainda mais essa explicação, uma vez que foi nesse setor das Forças Armadas que Bolsonaro atuou antes da carreira política.
"É simples assim, são generais que deram ordens a ele durante seus alguns anos na caserna", acrescenta.
Pressão de militares da reserva
No domingo (24), a presença militar ficou em evidência após uma carta assinada por dezenas de militares da reserva, incluindo dois generais, que citou a possibilidade de uma guerra civil no Brasil em resposta à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A carta enviada ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno, veio em seguida a declarações do próprio Heleno citando "consequências imprevisíveis" caso o celular de Bolsonaro fosse apreendido.
A possibilidade surgiu após o ministro Celso de Mello enviar uma notícia-crime ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que previa a apreensão do celular do presidente. O procedimento é de praxe, tendo sido a ação uma iniciativa de partidos, cabendo a Aras a decisão sobre a questão. Mesmo assim, a movimentação gerou polêmica.
Sobre a carta dos militares da reserva, o cientista político Antônio Marcelo Jackson, afirma que o documento demonstra desinformação e arbitrariedades por parte dos militares que o assinam.
Para ele, essa situação aponta que o teor da carta não seria o suficiente para criar atritos entre os poderes.
"Quando você trabalha com informações fidedignas, sim, você cria atritos, você está trabalhando com fatos, você está trabalhando com situações em que realmente você pode se contrapor a uma pessoa", aponta. "Agora quando você trabalha com informações que não são verdadeiras, que são absolutamente frágeis, me parece que seja quase uma conversa de comadre", acrescenta o professor.
Jackson acredita que a qualidade da carta não traz elementos sérios o suficiente.
"Com todo o respeito a oficiais que são sérios - eu conheço alguns que são bem sérios, militares - mas esse grupo, infelizmente, acho que quem assinou aqui [a carta dos militares da reserva] ou não leu o que estava assinando ou realmente desconhece o funcionamento do próprio país", conclui.