Segundo relatório do Instituto de Métricas e Avaliações em Saúde da Universidade de Washington (IHME), divulgado na segunda-feira (25), o Brasil pode ultrapassar a triste marca de 125 mil mortos pelo novo coronavírus em agosto.
O país tem hoje o maior número diário de mortes registradas pela COVID-19, e em quantidade de casos confirmados só está atrás dos Estados Unidos.
Segundo boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quinta-feira (27), o Brasil tem 25.598 óbitos causados pela doença e 411.821 casos.
Risco 'é muito, muito grande'
Para o médico infectologista Márcio Neves Bóia, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a projeção do estudo "não é fora da realidade", e o "risco" do número de mortes crescer bastante "é muito, muito grande".
Para demonstrar que a estimativa não é irreal, Bóia cita como exemplo os próprios Estados Unidos, onde as mortes já passaram de 100 mil. Além disso, aponta características do Brasil que podem gravar a situação.
"Pela dimensão continental do país, pela desigualdade social, pela estruturação no momento do SUS [Sistema Único de Saúde], que sofreu um grande baque nos últimos anos com a mudança da política de saúde, com a desestruturação do atual ministério da Saúde, isso pode contribuir negativamente para a persistência da pandemia no Brasil", afirmou o especialista.
'Doença pode se tornar endêmica por meses e até anos'
O infectologista acredita ainda que há "risco" do Brasil se tornar o novo epicentro mundial da COVID-19, que, no pior cenário, não seria vencida em pouco tempo.
"A doença pode se tornar endêmica durante vários meses, até anos no país", disse.
O especialista aponta também a facilidade de transmissão do vírus e a grande "área de fronteira seca" do Brasil com outros países.
"O próprio vírus, a característica de transmissibilidade dele, que pode ser por gotícula, por aerossol, por contato, isso é uma questão muito importante na transmissibilidade e na persistência do vírus na população. Em um país continental, com características muito peculiares em cada região, a disseminação do vírus pode ser grande e prolongada", apontou Bóia, que é diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.
Sem tratamento 'eficaz'
Para piorar a situação, Bóia ressalta a "angústia" diante da falta de vacinas e medicamentos eficazes contra a COVID-19, entre eles a "cloroquina" e a "hidroxicloroquina".
"Não temos nenhuma droga comprovadamente eficaz para o tratamento e até mesmo para minorar o impacto no corpo humano da COVID-19. Até o momento, são estudos de caráter experimental, que não tem comprovação de campo da eficácia desses medicamentos", disse o infectologista.