Em nota*, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa diz que "foram detetados vestígios do material genético de SARS-CoV-2 nas águas residuais monitorizadas, em linha com os resultados obtidos noutros projetos internacionais".
No final do mês de abril, uma pesquisa semelhante da Fiocruz, em parceria com a prefeitura de Niterói, no Rio de Janeiro, também identificou a presença do novo coronavírus em amostras coletadas na rede de esgoto da cidade.
Coordenado pela companhia Águas de Portugal, o COVIDETEC trabalha com amostras recolhidas em cinco Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), que atendem as áreas de maior densidade populacional do país, como as cidades de Lisboa e Porto. Estas também são as regiões que concentram o maior número de casos e vítimas da COVID-19 em Portugal.
Em resposta* à Sputnik Brasil, a companhia explica que o projeto "irá materializar-se numa ferramenta de deteção, quantificação, caraterização e modelação do vírus através da análise em ETAR. O objetivo do projeto é criar um sistema de alerta precoce da presença do agente etiológico da COVID-19 através da análise de águas residuais que possa contribuir para melhorar a resposta face a eventuais novos surtos da doença".
Através das análises, vai ser possível "conhecer o perfil de contaminação das águas residuais com material genético do vírus e sua relação com o número de infetados conhecidos", diz a companhia.
A ideia de analisar amostras da rede de esgoto se justifica, de acordo com os cientistas, pelo fato de que as pessoas infectadas, mesmo que não apresentem sintomas da COVID-19, excretam o vírus nas fezes. "Acresce que os indivíduos infetados excretam o vírus vários dias antes do aparecimento de sintomas, pelo que a implementação desta ferramenta de alerta precoce poderá contribuir de forma determinante para a implementação atempada de medidas de saúde pública preventivas nas populações das áreas geográficas em estudo", diz a nota da Faculdade de Ciências.
De acordo com os coordenadores, o projeto, iniciado no mês passado, vai ter duração de um ano e tem potencial para ser expandido pelo país. A iniciativa vai poder ser utilizada como ferramenta de alerta avançado, medindo a circulação do vírus na população antes que haja uma maior disseminação pelas comunidades.
A companhia Águas de Portugal explica que a rede de esgoto pode atuar como uma espécie de vigilante da situação, o chamado watchdog. "O objetivo final é usar as ETAR como watchdog da circulação de SARS-CoV-2 na população e estabelecer um sistema de alerta precoce que transfira informação para as autoridades competentes e contribua para melhorar a capacidade de preparação e de resposta do país face a eventuais novos surtos", diz a companhia.
De acordo com o boletim desta sexta-feira (29) da Direção-Geral de Saúde, Portugal tem 31.946 casos confirmados da COVID-19 e 1.383 mortes causadas pela doença. Os números vêm reduzindo e o país, que ganhou destaque internacional pelas ações de combate à pandemia, já está em fase de desconfinamento depois de quase dois meses em estado de emergência.
*As citações das fontes preservam a ortografia do português europeu