Com as medidas de distanciamento social impostas pelo coronavírus desde o mês de março, indústria (-1,4%) e serviços (-1,6%) registraram queda, enquanto a agropecuária (0,6%) teve um aumento. Os números são da comparação do primeiro trimestre de 2020 contra o quarto trimestre de 2019.
Para André Fernandes, economista, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o resultado negativo do PIB no primeiro trimestre deve ser atribuído, em grande parte, à pandemia do novo coronavírus. Segundo o professor, mesmo que no início do ano a COVID-19 ainda não estivesse no Brasil, o problema já tinha afetado países com os quais o Brasil se relaciona comercialmente.
"O PIB do primeiro trimestre foi em parte afetado pelo coronavírus. Porque nos dois primeiros meses do ano os setores mais afetados foram aqueles que tinham mais relação com o setor externo. Então a gente pode falar aqui de empresas exportadoras, por conta da retração do consumo", disse André Fernandes à Sputnik Brasil.
O economista também destacou que o real tem se depreciado fortemente em relação ao dólar nos últimos cinco meses. A queda do real em relação ao dólar foi grande, tornando as importações mais caras, e as famílias viajam menos e gastam menos no exterior. Já a partir de março o impacto do coronavírus "começou a se espalhar pelos outros setores da economia brasileira".
"O impacto da COVID-19 sobre o PIB brasileiro no primeiro trimestre é parcial. Nos dois primeiros meses do ano foi afetado por conta da COVID-19 nos outros países, com os quais o Brasil se relaciona, e a partir de março, aí sim, os efeitos se espalharam na economia brasileira de maneira interna", afirmou.
Um dos poucos setores a apresentar crescimento, o agronegócio não foi grande surpresa para o economista, pois as pessoas não podem abrir mão do produto desse setor. Assim, a demanda por produtos agropecuários tende a ser estável.
"Se olharmos os dados do PIB do setor agropecuário em relação ao primeiro trimestre do ano anterior, a gente vê que a produção e a exportação de soja cresceram de uma maneira substancial. As famílias, não só no Brasil como no mundo todo, precisam se alimentar. De maneira geral, países que tem um agronegócio bem desenvolvido encontram nesse setor um ponto forte de sua indústria nacional", explicou André Fernandes.
Já a indústria, como um todo, sofreu uma queda significativa. A retração da atividade industrial, todavia, foi registrada no mundo todo. A China, um dos grandes parceiros comerciais do Brasil, também demonstrou uma queda na demanda e afetou principalmente da indústria extrativa nacional.
"Portanto, não apenas o desaquecimento da economia doméstica, mas também da economia externa influenciaram bastante nisso. Não apenas por conta da recente e atual retração, dessa retração que temos visto desde o começo do ano, mas também por conta da perspectiva de incerteza em relação ao período ao longo do qual os efeitos da pandemia se mostrarão presentes. Isso acaba fazendo com que os investimentos sejam em parte postergados por parte das empresas, consequentemente o impacto disso sobre indústria extrativa, construção e indústria de transformação é sentido de maneira mais imediata", avaliou o acadêmico.
Para o interlocutor da Sputnik Brasil as perspectivas de recuperação econômica não são boas. As projeções anuais do PIB têm piorado. Se no início do ano se aguardava o crescimento de pelo menos 2,3%, agora se espera uma queda de pelo menos 6%.
"Tudo indica que 2020 será um ano no qual não se deve esperar crescimento econômico. Se conseguirmos somente amenizar os efeitos negativos da pandemia já poderemos nos dar por satisfeitos. Isso não só no Brasil, como ao redor do mundo [...] De modo geral, se espera uma retração em nível mundial", concluiu o entrevistado.