Na semana passada, Trump anunciou que os EUA estavam encerrando formalmente seu relacionamento com a OMS e redirecionando fundos para outras iniciativas de saúde pública. Na mesma conferência de imprensa, ele também apresentou uma série de ações contra a China em relação à política de Hong Kong, incluindo restrições de visto para pesquisadores e estudantes universitários.
O diretor do Instituto de História e Estudos Nucleares da Universidade Americana, Peter Kluznick, afirmou à Sputnik que a ação de Trump e seus novos ataques à OMS eram consistentes com seus padrões anteriores de comportamento político.
"Bem-vindo mais uma vez ao mundo de Donald Trump de dissimulação, distração, desvio, prevaricação e bode expiatório. Sua resposta à OMS é preocupante, mas não é surpreendente", disse Kluznick. "Na mente dele, a ameaça seria suficiente para aplacar sua base, muitos dos quais desconfiavam de todas as organizações e tratados internacionais".
Como o número de mortos nos EUA pela COVID-19 continuou a subir, Trump percebeu que precisava apoiar seus ataques retóricos anteriores à organização com ações mais tangíveis, explicou Kluznick.
"A resposta óbvia é que os EUA passaram o número de 100 mil mortos pela COVID-19 – uma marca verdadeiramente vergonhosa que destacou o fracasso total e completo do governo Trump em lidar com a crise, marcada por uma terrível falha de liderança do próprio Trump", explicou.
Morte e China como novas distrações
O segundo grande desenvolvimento ao qual Trump estava respondendo foram as manifestações e distúrbios em resposta a outro episódio da polícia dos EUA assassinando uma vítima afro-americana - o caso de George Floyd em Minneapolis, avaliou Kluznick.
"Essa situação tensa foi ainda mais inflamada pelas provocações e tweets racistas de Donald Trump, pelos quais ele foi condenado por membros de seu próprio partido. Portanto, Trump tinha duas coisas pelas quais ele estava desesperado para criar distrações. Ele olhou para o seu manual limitado e inventou sua nova vítima favorita - a China", acrescentou.
Trump vem provocando uma nova guerra fria com a China há algum tempo, mas seus esforços deram um grande salto adiante na semana passada, observou Kluznick.
"Isso é muito perigoso, mas parece que funciona novamente não apenas com sua base, que geralmente desconhece os assuntos mundiais, mas com os democratas centristas como Joe Biden, que parecem ter a intenção de superar os republicanos na luta contra a China", lamentou ele.
No entanto, minar a OMS em meio a uma pandemia foi o auge da loucura, garantiu Kluznick.
"Nenhum especialista médico tolera isso. A OMS está desempenhando um papel crucial no combate à malária, tuberculose, poliomielite, HIV, sarampo e outras doenças que assolam as pessoas em todo o mundo. Ela está liderando os esforços internacionais para encontrar uma vacina contra o novo coronavírus. Deve ser fortalecida, não deixá-la de joelhos", afirmou.
O mundo clama desesperadamente por um esforço global unido para encontrar uma vacina contra a COVID-19, disse Kluznick.
"Mas Trump está transformando isso em uma competição nacional inútil. Esse é o tipo de abordagem que a [solidariedade] mundial precisa desesperadamente, e não o unilateralismo regressivo de Trump em um momento de crise, mais uma vez colocando seu próprio ego patético à frente das necessidades da comunidade internacional", destacou.
Mensagem errada
O diretor do Centro Independente de Paz e Liberdade, Ivan Eland, concordou que a política de Trump de usar a OMS como bode expiatório não era aconselhável no auge da pandemia, por mais que a organização precisasse de reformas.
"Trump está usando a China e a OMS como bode expiatório para distrair [a todos sobre o] seu próprio atraso na resposta ao vírus", comentou.
Eland reconheceu, porém, que a China foi excessivamente secreta sobre o vírus.
"Trump está certo de que a OMS precisa de reforma há anos, mas desassociar os Estados Unidos da organização no meio de uma pandemia envia a mensagem errada para aqueles que estão na linha de frente da epidemia e para o público americano também tentar lidar com o surto", avisou.
O diretor-geral da OMS, Adhanom Ghebreyesus, disse nesta segunda-feira (1º) que a organização deseja continuar colaborando com os Estados Unidos.