Com cerca de 30 mil mortes e 530 mil contaminados, o Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia da COVID-19 em todo o mundo, mas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não chegou ao pico da transmissão.
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De acordo com um levantamento feito pelo G1, o país levou cerca de dois meses para chegar até a marca de 15 mil mortes, mas essa quantidade dobrou em apenas duas semanas.
Estudos divulgados em maio davam conta de que o Brasil chegaria ao pico do surto do novo coronavírus na primeira semana deste mês, justamente quando alguns prefeitos já anunciam o início da retomada das atividades econômicas, como no Rio de Janeiro. Mas, mesmo antes de chegar a esse pico, especialistas já apontam para os riscos de uma possível segunda onda de transmissões no país.
"Esse pico contínuo, ou uma segunda onda, é um risco que a gente corre. Nós nunca tivemos uma boa adesão às medidas de mitigação, de isolamento horizontal, que são preconizadas para a gente conseguir bloquear a doença", explica em entrevista à Sputnik Brasil Alexandre Telles, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.
De acordo com o especialista, a capital fluminense, por exemplo, ainda tem um quadro de transmissão sustentada da COVID-19, com incidência alta e falta de leitos nas unidades hospitalares. E a reabertura das atividades em um cenário como esse pode favorecer a infecção de mais pessoas.
"A gente não sabe se as pessoas infectadas podem se reinfectar e temos a possibilidade de pessoas que não tinham o contato com o vírus passarem a ter o contato e se infectarem, desenvolverem quadros graves. Quando a gente faz essa abertura de uma maneira descontrolada, sem a gente ter conseguido bloquear a transmissão, a gente corre, infelizmente, esse risco de ter uma segunda onda, uma terceira onda..."
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Para o médico, que atua no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, referência no combate ao novo coronavírus no Rio, o Brasil não conseguiu "fazer bem o dever de casa do isolamento porque não garantiu medidas de proteção social para as famílias" e "medidas de preservação dos trabalhos". E isso levou a "uma situação absurda", de continuar a ter mais pessoas infectadas à medida que se reabre a economia e ainda com dificuldades de se fazer planejamentos mais precisos pela falta de testes.
Telles acredita que com um "retorno precipitado" às atividades, que é o que parece estar acontecendo no Brasil, há a possibilidade de se provocar uma "nova onda de transmissão, inclusive pior do que a primeira".
"É uma situação muito ruim porque a gente vê o setor econômico pressionando e a gente vê o governo federal, do estado e do município querendo reabrir a qualquer custo, entretanto, sem adotar medidas, como outros países adotaram, para resguardar empregos, resguardar as próprias empresas."
O especialista avalia que as reaberturas ou tentativas de reaberturas que vêm ocorrendo ou sendo discutidas no Brasil levam em conta apenas o fator econômico, sem nenhum respaldo científico. Pior, ele sublinha, é fazer isso com os hospitais lotados, dificuldades para recrutar mais profissionais de saúde e níveis de equipamentos e remédios abaixo do necessário para atender à parcela da população já afetada pela pandemia.
"E essa é uma situação revoltante e que, do ponto de vista da saúde pública, do ponto de vista coletivo, enfim, de solidariedade, não faz nenhum sentido no momento."