Em pé de guerra com as orientações da OMS desde o início da crise do novo coronavírus, Bolsonaro ainda voltou a defender o uso da hidroxicloroquina para o tratamento dos infectados, embora não existam comprovações científicas da eficácia do medicamento – na verdade, vários estudos recomendam que não se utilize.
"A OMS nas últimas semanas tem tido algumas posições antagônicas. [Na] penúltima [das posições] sobre a hidroxicloroquina, foi determinada a suspensão da pesquisa, depois [OMS] voltou atrás. As pesquisas continuam, não temos a comprovação científica ainda, mas [há] relatos de pessoas infectadas e de médicos, em grande parte, [que têm] sido favoráveis à hidroxicloroquina", afirmou.
O presidente fez referência à retomada dos estudos por parte da OMS, que haviam sido suspensos após um estudo publicado pela revista científica The Lancet apontar riscos. Contudo, o mesmo trabalho acabou sendo questionado e deixou de ser referencial, embora outras pesquisas já atestem os perigos da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus.
O presidente ainda aproveitou a recente fala da chefe da unidade de doenças emergentes da OMS, Maria Van Kerkhove, que declarou na segunda-feira (8) que já há estudos que apontam que transmissão da COVID-19 pelos assintomáticos é rara.
"Foi noticiado ontem [segunda-feira, 8], também de forma não comprovada ainda, como nada é comprovado na questão do coronavírus, que a transmissão por parte de assintomáticos é praticamente zero. Então, isso vai dar muito debate. Muitas lições serão tomadas. Com toda certeza, podem ser analisadas uma abertura mais rápida do comércio e a extinção daquelas medidas restritivas adotadas segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, governadores e prefeitos", sentenciou, prevendo a retomada das atividades escolares.
O que Bolsonaro não comentou é que a fala da funcionária da OMS foi criticada pela comunidade científica, já que deu margem para interpretações equivocadas. De acordo com os epidemiologistas, há diferença entre assintomáticos (sem sintomas) e pré-sintomáticos, que são as pessoas que vão desenvolver algum sintoma da doença.
Posteriormente, a própria Van Kerkhove destacou que ela tratava dos países com grande capacidade de testagem e rastreamento quando fez o seu comentário sobre os assintomáticos.
Sem mencionar a polêmica em torno da falta de transparência na divulgação dos números da COVID-19 no Brasil, Bolsonaro lamentou as mais de 37 mil mortes e 700 mil infecções e ainda aproveitou para alfinetar a imprensa, que teria ajudado a instaurar o clima de medo ao noticiar amplamente o avanço da doença.
"Esse pânico que foi pregado lá trás por parte da grande mídia começa talvez a se dissipar levando em conta o que a OMS falou por parte do contágio dos assintomáticos. O governo federal espera algo de concreto nas próximas horas, nos próximos dias, o que será muito bom para o Brasil e o mundo. A OMS falará com certeza sobre as suas posições adotadas nos últimos meses, o que levou a muita gente a segui-la de forma cega", completou.
Endossando a visão de Bolsonaro sobre a OMS, o chanceler Ernesto Araújo criticou a entidade, que estaria tendo uma aparente falta de independência, transparência e coerência. Ele ainda sinalizou o alinhamento brasileiro com os Estados Unidos ao criticar a organização, cobrando informações como a origem do vírus.
"A origem do vírus, o compartilhamento de amostras, o contágio por humanos, os modos de prevenção, a quarentena, o uso da hidroxicloroquina, a indumentária de proteção e agora na transmissibilidade por assintomáticos. Em todos esses aspectos a OMS foi e voltou, às vezes mais de uma vez. Isso nos causa preocupação", comentou.