O abastecimento aéreo de aviões, apesar de parecer simples em palavras, é um dos elementos táticos mais complexos da pilotagem.
Aviões reabastecedores podem transferir querosene nos céus para aumentar drasticamente o alcance de voo, podendo o tornar ilimitado em teoria. Após uma missão de combate nem sempre há combustível suficiente nos tanques para voltar a casa.
Esses aviões são equipados com tanques adicionais com querosene de aviação e sistemas especiais de transferência de combustível. A Rússia tem cinco reabastecedores Il-78 e dez da versão Il-78M para realizar essa tarefa.
Para isso, a aviação russa utiliza um ou vários dispositivos de reabastecimento suspensos na aeronave. Normalmente há dois debaixo das asas, atrás das naceles dos motores, e um terceiro na cauda da fuselagem. Cada um possui uma mangueira flexível de várias dezenas de metros de comprimento. Em sua extremidade está a chamada cesta, que encaixa na sonda de abastecimento.
"O avião-tanque atinge uma certa altura e diminui a velocidade para 500-600 quilômetros por hora. Depois disso, mantendo uma direção de movimento constante, ele larga as mangueiras", explica o major-general Vladimir Popov, piloto militar emérito da Rússia. "O avião 'cliente' precisa se alinhar com a cauda dele, baixar um pouco, liberar a sonda de abastecimento e a encaixar exatamente na cesta que está no fim da mangueira."
"A sonda é conectada ao orifício central por um fecho eletromagnético, após o que é hermetizada e o combustível é transferido sob alta pressão", continua. "O procedimento demora de dez a quinze minutos. Assim que o abastecimento de combustível termina, a aeronave abastecida se desconecta do avião-tanque e continua seu voo."
Sexto sentido e firmeza
Todos os caças, caças-bombardeiros, interceptores, aviões de longo alcance e estratégicos estão equipados com sondas de reabastecimento.
Os centros de treinamento militar e requalificação do pessoal admitem para treinamentos deste tipo exclusivamente pilotos de primeira classe que dominem bem os voos em grupo.
"Primeiro, eles aprendem a simplesmente seguir na cauda de um tanque mantendo uma determinada distância", explica o piloto. "A etapa seguinte é o reabastecimento 'seco': acoplar a sonda à cesta sem reabastecimento de combustível. Só quando se obtém experiência e autoconfiança é que é feito o reabastecimento 'a sério'."
Colocar aviões-tanque pesados no ar para treinar pilotos não é barato, por isso seu papel é normalmente desempenhado por caças-bombardeiros Su-24, bem como por caças embarcados Su-33 e MiG-29K, para isso foram desenvolvidos dispositivos suspensos especiais.
"Lembro muito bem meu primeiro treinamento de reabastecimento no ar. Decolei do aeródromo, cheguei à área especificada e me aproximei da cauda de um Su-24. Ele soltou seu 'ranho' [mangueira], eu nivelei a velocidade, acertei a altitude, soltei a sonda... mas depois começou tudo abanando", conta o major aposentado Dmitry Litvinov, que pilotava um caça Su-27.
"Entramos em turbulência, o avião saltou em frente, [e] fui atingido pela cesta de reabastecimento na canopy da cabine. Abrandei a velocidade, tentei acoplar novamente, [mas] falhei novamente. Somente na terceira tentativa é que acertei na cesta com a sonda. Suei como na sauna."
Reabastecimento em piloto automático
Um avião militar pode ser reabastecido até três vezes no ar. Os portadores de mísseis estratégicos Tu-95MS e Tu-160 geralmente se reabastecem duas vezes, a caminho do objetivo e no regresso.
Para os caças, caças-bombardeiros e aeronaves do Exército geralmente basta um suplemento de querosene. O major-general Vladimir Popov contou o que acontece quando um helicóptero se reabastece de um avião.
"Podia parecer que a velocidade de um helicóptero e de um avião não são comparáveis. No entanto, um helicóptero de combate é bastante capaz de alcançar o tanque quando este diminui a velocidade para 250-300 quilômetros por hora depois de baixar os flaps. A sonda de abastecimento das aeronaves da aviação do Exército é muito longa, para que a mangueira não seja cortada pelas pás do rotor principal", detalha Popov.
"Um reabastecimento assim requer as mais altas qualificações tanto do piloto do helicóptero como da tripulação do reabastecedor. O primeiro tem que manter a velocidade máxima por muito tempo [e] o segundo [a velocidade] mínima, no limite da queda. É claro que os pilotos trabalham no limite de suas capacidades."
No futuro é planejado excluir o fator humano do procedimento de reabastecimento. Tanto a Rússia como o Ocidente têm desenvolvimentos em andamento nessa área.
No futuro, o caça ou bombardeiro escolherá sozinho o percurso ideal, acertando a velocidade e pegando a cesta com a sonda. Parte dessa tecnologia será implementada na mais nova modificação dos aviões-tanque russos Il-78 e Il-78M-2.