Uma ONG alemã chamada Campact conseguiu obter mais de 300 mil assinaturas em menos de uma semana, pedindo que três das maiores redes de supermercados do país deixem de comprar produtos brasileiros não só pela destruição da floresta, mas pela gestão Bolsonaro.
O grupo cita em seu abaixo-assinado as recentes medidas legislativas que podem ter impacto direto na Amazônia, como o projeto de lei (PL) 2633/20, que trata da regularização fundiária na região, conhecido como "MP da Grilagem" pelos seus críticos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o economista Welber Barral, sócio-diretor da BMJ Consultores Associados, avaliou que existe uma percepção fora do Brasil e que acaba apenas reforçada "por um discurso pouco cuidadoso às vezes do presidente Bolsonaro e de algumas autoridades brasileiras".
"Existe já um movimento ambiental muito forte na Europa e esse movimento, claro, olha com muita atenção o que acontece em um país como o Brasil e, principalmente, com a má fama que o Brasil vem ganhando nos últimos anos por conta do desmatamento, principalmente no momento em que se combate o aquecimento global", disse Barral, que foi secretário de Comércio Exterior no segundo governo no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim como no Reino Unido, prosseguiu ele, o que se propõe na Alemanha é um movimento privado que envolve supermercados e consumidores, porém ele possui sérias implicações e pode se espalhar por outros países europeus que tenham a mesma motivação: fazer o Brasil voltar atrás em medidas que facilitem o desmatamento da Amazônia.
Se Bolsonaro e o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles, não se atentarem, há o risco de produtos brasileiros dos mais diversos meios de produção e nichos da economia acabarem tendo as suas reputações manchadas em mais um ano de recordes de desmatamento e destruição da Amazônia – a temporada das queimadas se inicia agora.
"Em termos de perdas por exportação, nós podemos calcular que o dano é muito maior do que a exportação efetiva. O que eu quero dizer é o seguinte: o dano à reputação do produto brasileiro, o fato de se atrelar a exportação de produtos agrícolas com as queimadas na Amazônia pode ter um dano muito além da Europa e muito além desses países que estão adotando essas medidas agora", pontuou Barral à Sputnik Brasil.
"De novo, não são as adoções por alguns países e entidades privadas, mas isso acaba afetando a reputação, o acesso ao mercado, à boa vontade desses países com relação a licenças, certificações, licenças ambientais, licenças sanitárias, então o dano é muito maior no sentido de que pode dificultar muito as exportações brasileiras no futuro", acrescentou.
Defensores da polêmica MP que está parada no Congresso Nacional e que interessa o Palácio do Planalto, em grande parte, se alinham ou integram a Bancada Ruralista, porém o especialista ouvido pela Sputnik Brasil ressaltou que não se deve confundir a minoria que diz trabalhar pela agricultura e pecuária sem respeitar o meio ambiente com a parcela preponderante do agronegócio nacional.
"Existe claro uma disfunção entre fato e a versão que é contada lá fora. O agronegócio brasileiro é extremamente moderno e 90% dele é feito utilizando-se de energia renovável, com padrões ambientais de produção melhores até dos de alguns países desenvolvidos. Mas o que aparece na imprensa é sempre a questão do desmatamento, do abuso dos padrões ambientais e das queimadas na Amazônia", analisou.
O economista ainda mencionou que, entre ameaças e boicotes e indicadores negativos de preservação da natureza, o Brasil depende do agronegócio em ampla escala para sustentar a sua balança comercial. Contudo, se boicotes como os sugeridos no Reino Unido e na Alemanha prosperarem, o acesso dos produtos brasileiros a mercados de todo o mundo pode ser afetado.