A recente "abordagem estratégica à República Popular da China" de maio de 2020, adotada por Washington, está correta em como relata os desafios enfrentados pelos EUA contra Pequim, mas errada na forma como os encara, segundo a revista The National Interest.
"[...] O documento perpetua o diagnóstico incorreto da administração Trump sobre a natureza e o alcance do desafio que a China representa para os Estados Unidos. Com base neste diagnóstico incorreto, emite algumas receitas que serão provavelmente ineficazes ou mesmo contraproducentes", escreve o autor do artigo Paul Heer.
A estratégia publicada em dezembro de 2017, que serviu de base para a atual política com China, usou a falsa premissa de que os EUA se comprometeram com a China esperando mudanças políticas e econômicas exageradas que tornassem Pequim "uma parte interessada mundial construtiva e responsável", mas que o Partido Comunista da China (PCC) bloqueou essa esperança.
Contudo, aponta Heer, isso ficou visível logo em 1989, com os eventos da Praça Tiananmen em Pequim, antes da aproximação bilateral no período pós-Guerra Fria.
Os EUA acusam a China de seguir uma política "autoritária" e "mercantilista", impelindo a China a fazer um engajamento com base em resultados, mas eles próprios querem forçar a China a reconhecer os "interesses nacionais vitais dos Estados Unidos" através de políticas tais como a retirada do acordo comercial TPP, a guerra de tarifas e o "jogo de culpa de desinformação do coronavírus".
A "narrativa de excepcionalismo e vitimização do PCC" não pode ser exceção à política norte-americana, segundo o documento, mas ele ignora a questão histórica do "século de humilhação" chinês desde os meados do séc. XIX aos meados do séc. XX, de acordo com Heer.
Nesse período o país foi severamente explorado por potências estrangeiras, incluindo pelos EUA, apesar de o relatório enfatizar a contribuição positiva do país norte-americano.
Luta de poderes
A linha seguida pela administração Trump também estaria interpretando mal os desígnios de Pequim quando diz que "os esforços de Pequim para impor a conformidade ideológica em casa [...] apresentam uma imagem inquietante do que é na prática uma 'comunidade' liderada pelo PCC", comenta o autor do artigo.
Heer, no entanto, não concorda com isso.
"As aspirações de Pequim à reforma da governação global consistem em legitimar o modelo chinês e não em impô-lo a outros países, muito menos a todo o mundo."
Assim, a "expansão do uso do poder econômico, político e militar para obrigar os Estados-nação a aceitarem sua posição" pela China, através de iniciativas tais como a Nova Rota da Seda, é característica de todas as grandes potências, incluindo os EUA, em que tentam alinhar a ordem internacional a seu favor.
Além disso, Washington está sobrestimando sua influência na abordagem da China por causa dos aliados, que não concordam na íntegra com a política norte-americana e têm dúvidas em relação aos EUA devido à recente saída do país de tratados e acordos internacionais, bem como a crescente deterioração sociopolítica em casos como de George Floyd e o tratamento da pandemia.
"[...] A resposta dos EUA deveria se concentrar mais em concorrer do que em se queixar", recomenda Paul Heer.