Após acumular uma série de crises e polêmicas em seus 14 meses à frente da pasta, Weintraub anunciou na quinta-feira (18) em vídeo, no qual aparece ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que estava saindo do governo.
O ex-ministro deixa o cargo marcado por estar sendo investigado no inquérito das fake news do Supremo Tribunal Federal (STF), que apura a disseminação de notícias falsas e ameaças contra juízes da Corte. Na reunião ministerial de 22 de abril, ele chamou os integrantes do Supremo de "vagabundos" e disse que eles deveriam ser presos.
Mas para a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Weintraub deixa também em sua passagem pelo ministério um rastro de políticas mal formuladas e destruição do que vinha sendo feito ao longo dos anos.
"Não vai fazer falta nenhuma. É uma pessoa nefasta", disse Lívia.
'Profissional despreparado para função'
Segundo ela, seu posicionamento é compartilhado por boa parte dos professores, pesquisadores, associações, dirigentes do setor e educadores, inclusive da América Latina e da Europa, que defendem uma "educação púbica, democrática, laica, de qualidade para todos e sem discriminação".
Ela cita, por exemplo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped).
"Avaliamos que esse senhor deixa para o povo brasileiro, para os estudantes, crianças, jovens e adultos, para os educadores e pesquisadores que atuam na educação básica e superior, um legado desastroso e de devastação no campo educacional, por ser um profissional despreparado para a alta função de ministro, em um país que reúne uma riqueza cultural incalculável e experiências bem sucedidas de projetos", afirmou a professora da UFMG.
Lívia Fraga aponta alguns exemplos de atuação "perigosa e desastrosa para o avanço da educação democrática" levados a cabo por Abraham Weintraub, que segundo ela teve desempenho "deplorável" no governo.
A especialista cita a área de pesquisa em educação da criança na primeira infância. "Hoje não se fala mais disso no ministério, que praticamente destruiu essa área", disse ela, ressaltando que, embora a pasta não atue diretamente no setor, tem uma função indutora e de coordenação de políticas.
Fundo para educação básica em perigo
Além disso, Lívia diz que o ministério "deturpou a política nacional do livro didático, que começou nos anos 90 e é reconhecida internacionalmente".
A professora cita ainda Projeto de Lei em tramitação no Congresso para tornar permanente o Fundo Nacional de Educação Básica (Fundeb), criado para garantir investimentos no setor e que vence em 31 de dezembro deste ano.
"Há um consenso de que esse fundo é fundamental no financiamento da educação básica. A discussão vem se arrastando, e o governo federal só entra com propostas de diminuir o fundo e para diminuir sua participação financeira e de coordenação na política de financiamento da educação básica. Em um país como o nosso, isso é absolutamente fundamental", criticou.
A especialista lembra ainda um dos últimos atos de Weintraub como ministro, a extinção de cotas para negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência em programas de pós-graduação em universidades e institutos federais.
'Guerra cultural'
"Até do novo site do ministério foram retirados cadernos, orientações e publicações feitos nos governos anteriores de forma aberta e democrática, com participação das universidades e educadores, dentro dessa guerra cultural ultradireitista que esse governo vem empreendendo", disse Lívia.
A saída de Weintraub do cargo, porém, não traz a promessa de que dias melhores virão, na opinião da professora. Um dos possíveis substitutos, o secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim, um defensor da educação doméstica e, assim como o ex-ministro, discípulo do escritor Olavo de Carvalho, não anima a educadora.
"Não dá para esperar muita coisa nesse governo Bolsonaro", sentenciou Lívia Fraga.