Se, durante a Guerra Fria, para os serviços de inteligência estrangeiros o estudo de qualquer publicação ou a leitura das entrelinhas dos jornais soviéticos do exército se revestia de primordial importância, hoje, na era da Internet, o trabalho dos analistas se tornou muito mais fácil.
Bart Hendrickx , analista militar, publicou um artigo na revista norte-americana The Space Review, sobre os programas russos de armas antissatélite a laser.
Que segredos o analista americano revelou?
Hendricks, constatando que os operadores do Peresvet foram treinados na Academia Espacial Militar de São Petersburgo, conclui que esta arma pode ser utilizada a nível espacial.
O americano sabia que Sergei Garanin, um conhecido especialista russo em sistemas de laser, tinha tido intervenção no projeto. Para além disso, soube de uma publicação no Facebook de 2018 do Ministério da Defesa da Rússia de que o Peresvet poderia combater satélites em órbita – publicação imediatamente apagada. Esses dois dados reforçaram a convicção de que o laser teria uma componente espacial.
Após analisar imagens de satélite no Google Earth, Bart Hendricks se deu conta que os contêineres dos Peresvet estavam localizados nas bases das Forças de Mísseis Estratégicos (FME), onde estão implantados os complexos móveis de mísseis balísticos intercontinentais.
A instalação de unidades de laser móveis em bases FME significa para o analista que o Peresvet visa atingir meios de ataque ou de detecção de mísseis balísticos intercontinentais móveis, como aviões, drones, mísseis de cruzeiro ou satélites.
Procurando dados em tribunais e no portal de compras
Bart Hendricks procurou igualmente informação em litígios judiciais sobre concursos de fornecimento de componentes e no portal de licitações do governo.
E isso permitiu – segundo afirma – definir praticamente toda a cadeia de subcontratados chave do projeto a laser, permitindo igualmente determinar a localização de alguns complexos Peresvet.
Para a definição das características técnicas do laser de combate Peresvet, não dispondo de suficientes dados em publicações abertas, recorreu a analistas russos em diversos fóruns da Internet.
Com base em todas as informações publicadas ou coletadas, Bart Hendricks conclui que o Peresvet foi concebido principalmente para ocultar os movimentos dos sistemas móveis de mísseis intercontinentais, neutralizando temporariamente ou cegando permanentemente os sistemas óticos dos satélites de reconhecimento inimigo.
De acordo com Bart Hendricks, a Rússia está construindo um potencial de defesa espacial, que não tem análogo em nenhum outro país.
O fato de o portal de licitações do governo, apesar de ter sido implementado para evitar a corrupção nos contratos públicos, poder acabar por expor informação sensível e que deveria ser classificada, permite a analistas como Bart Hendricks tirar conclusões bastante exatas, que são interessantes principalmente para o Pentágono.
Neste tempo digital, é difícil guardar segredos.