A história do sistema Terra-Lua continua sendo desvendada. Mas cientistas acreditam que ambos se formaram quando um corpo do tamanho de Marte colidiu com um protoplaneta.
A Terra acabou sendo a filha maior dessa colisão, retendo calor suficiente para se tornar tectonicamente ativa. A Lua, sendo menor, provavelmente esfriou mais rápido e geologicamente parou no tempo.
Acredita-se que os destroços dessa colisão tenham se separado rapidamente, talvez durante alguns milhões de anos, para formar a Terra e a Lua.
A Terra acabou ficando maior, tornando-se um planeta dinâmico com atmosfera e oceanos. A Lua, por sua vez, ficou menor e sem massa suficiente para replicar as características terrestres
Assim, reter substâncias voláteis como a água ou os gases que formam nossa atmosfera, ou reter calor interno suficiente para manter o vulcanismo e a tectônica a longo prazo, são idiossincráticos à forma como ocorreu a colisão que formou a Terra e a Lua.
Os 'mares' da Lua
No lado da Lua perpetuamente voltado para a Terra, pode-se observar manchas escuras e claras a olho nu.
Os primeiros astrônomos chamaram essas regiões escuras de "mares", pensando que eram massas de água como na Terra. No entanto, usando telescópios, cientistas conseguiram descobrir, há mais de um século, que não eram de fato mares, mas provavelmente crateras ou algo de origem vulcânica.
Naquela época, a maioria dos cientistas supôs que o lado oculto da Lua deveria ser mais ou menos como o lado visível.
O lado oculto da Lua
Mas no final dos anos 50 e início dos anos 60, sondas espaciais lançadas pela URSS lograram coletar as primeiras imagens do lado oculto da Lua, ficando os cientistas perplexos ao descobrir que os dois lados eram muito diferentes.
O lado oculto quase não tinha "mares", ocupando apenas 1% da sua área, em contraste com os 31% do lado visível.
As missões Apollo da NASA confirmaram a origem vulcânica das manchas, mas não resolveram o quebra-cabeça da assimetria entre os lados visível e oculta da Lua.
Contudo, também identificaram um novo tipo de assinatura de rocha que denominaram KREEP, abreviação para rocha enriquecida em potássio (símbolo químico K), elementos de terras raras (REE, que incluem cério, disprósio, érbio, európio e outros elementos raros na Terra) e fósforo (símbolo químico P), e que foi associada aos "mares".
Uma equipe internacional de cientistas, liderados por Stephen M. Elardo da Universidade da Flórida (EUA) e com colaboração da NASA, combinando observação, experimentos de laboratório e modelagem computadorizada, obteve novas pistas sobre o que teria provocado a assimetria da Lua, refere o Heritage Daily.
E estas pistas estão ligadas a uma importante propriedade da KREEP. Potássio (K), tório (Th) e urânio (U) são elementos radioativamente instáveis, podendo originar uma variedade de configurações atômicas com números variáveis de nêutrons.
Aquecimento radiogênico
Estes átomos de composição variável são conhecidos como isótopos, alguns dos quais são instáveis e se desfazem para produzir outros elementos, produzindo calor.
O calor do decaimento radioativo desses elementos pode ajudar a derreter as rochas em que eles estão contidos.
O estudo mostra que, além do aumento do aquecimento, a inclusão de um componente KREEP nas rochas também reduz sua temperatura de fusão, compondo a atividade vulcânica esperada a partir de simples modelos de aquecimento radiogênico.
O estudo exigiu a colaboração entre cientistas que trabalham em teoria e experimentação. Após a realização de experimentos de fusão de rochas a altas temperaturas com vários componentes do KREEP, a equipe analisou as implicações que isso teria no tempo e volume da atividade vulcânica na superfície lunar.
O experimento, partindo de modelagem numérica térmica, mostrou concentrações muito elevadas de elementos radioativos como U e Th no lado visível, diferentemente do lado oculto.
O aquecimento radiogênico, segundo os cientistas, teria resultado em uma formação assimétrica da crosta lunar.
O estudo conclui, assim, que os "mares" enriquecidos com U e Th explicam a assimetria do lado visível com o lado oculto da lua, onde o fenômeno não ocorreu.