A diretora-geral da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, fez o alerta de que a chegada do inverno deve tornar o combate à COVID-19 mais difícil no continente sul-americano.
Anthony Wong, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) alertou que, segundo estudos, o coronavírus tende a se propagar com mais intensidade em temperaturas entre 3 e 17 graus, "justamente a temperatura média aqui no Brasil".
"Sem dúvida, isso está acontecendo no Brasil, nos estados do Sul principalmente, que estavam relativamente seguros, mas agora tiveram um aumento", alertou Wong.
O médico, um dos opositores do isolamento social, defende que a quarentena seria "prejudicial para o estado psíquico e mental dos cidadãos brasileiros". Segundo ele, o distanciamento vertical, que consiste em isolar pessoas com fatores de risco, seria mais eficiente.
"Atualmente eu acho que tem muita pouca coisa que o Brasil pode fazer para isso. Porque nós sabemos que o vírus já está totalmente disseminado. Não há como conter. Ele tem força própria agora", argumentou.
Para o entrevistado, a propagação para o interior do país está acontecendo em grandes velocidade e cidades, até então seguras, estão começando a registrar casos de COVID-19.
"Não existe mais a possibilidade da quarentena ou do isolamento segurar a infecção", afirmou o professor da USP.
Wong também é conhecido por ser um defensor do uso de hidroxicloroquina e azitromicina no início do processo de infecção com o novo coronavírus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu, na semana passada, os testes clínicos com a cloroquina e com a hidroxicloroquina. Essa é a segunda vez que a OMS suspende os testes com os compostos, após novos dados e estudos não mostrarem benefício. A Food and Drug Administration, agência reguladora de medicamentos dos EUA, também revogou sua autorização de uso emergencial para a hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19.
Isolamento importa mais do que o frio
Em conversa com Sputnik Brasil, Davis Fernandes Ferreira, virologista, professor do Instituto de Microbiologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) afirmou que, apesar do coronavírus geralmente ser inativado mais facilmente em temperaturas quentes, o frio não fará grande diferença.
"Acredito que não seja um fator crítico", disse o médico. "O que faz mesmo aumentar ou diminuir a propagação desse vírus é o comportamento da população e a higiene pessoal. Eu acho isso muito mais importante do que a temperatura externa", acrescentou.
Ele alertou, no entanto, que o vírus, de fato, se mantém por mais tempo nas superfícies em temperaturas frias, e que existe uma tendência de maior aglomeração de pessoas em ambientes fechados em função do frio, o que "pode aumentar a propagação".
"De qualquer forma, eu ainda acho que, se a gente manter as regras, se a população manter a orientação de aglomeração e de distanciamento social, isso sobrepassa o perigo do inverno", ponderou o médico.
O virologista da UFRJ também alertou para a expansão da doença no interior do país, afetando cada vez mais cidades. Para ele, "a curva vai continuar, talvez nas regiões mais frias, não por causa da temperatura, mas por causa do comportamento da população".
Davis Fernandes Ferreira reiterou a necessidade de enfatizar o que já vem sido dito pela comunidade médica, que recomenda evitar aglomerações, bem como cobra um controle mais rígido de pessoas em ambientes fechados, como restaurantes e shoppings.
"Isso tem que ser muito controlado, senão a aglomeração em massa vai com certeza causar um aumento da propagação desse vírus, podendo chegar inclusive em cidades que já estavam reabrindo. [Podem] voltar a fechar novamente por causa do número de casos. Então as autoridades devem manter a propaganda e a orientação para a população e reforçar, nos locais onde a população está indo para se proteger do frio, as regras de segurança e as regras de distanciamento social", afirmou o médico.
Para Ferreira, agora é o momento de pensar no outro e nas pessoas vulneráveis. Ele apontou a importância do uso de máscaras e para a responsabilidade de cada um com a comunidade.
"De qualquer forma, no país todo, a gente tem que ter em mente que o distanciamento social ainda é necessário. A gente tem que respeitar as regras. O uso de máscara tem de ser obrigatório. O uso de máscara não é para eu me proteger só. É para eu proteger a pessoa que está passando por mim no caso de eu estar infectado e não souber", concluiu.