Após analisarem os dados dos observatórios Ligo, nos EUA, e Virgo, na Europa, astrônomos detectaram ondas gravitacionais produzidas pela colisão de um buraco negro com um objeto misterioso.
De acordo com o estudo, publicado nesta terça-feira (23) no The Astrophysical Journal Letters, o fenômeno é interessante, pois envolve um astro de 2,6 massas solares, peso que está dentro da chamada "lacuna da massa", que pode ser a estrela de nêutrons mais pesada já encontrada, ou o buraco negro mais leve.
A estrela de nêutrons mais pesada conhecida não tem mais que 2,5 vezes da massa solar, enquanto o buraco negro mais leve já detectado é de aproximadamente cinco massas solares.
A detecção ocorreu no dia 14 de agosto de 2019, quando foram registradas as ondas gravitacionais resultantes da fusão de um buraco negro de 23 massas solares com o respectivo objeto.
"Fusões de natureza mista [buracos negros e estrelas de nêutrons] são previstas há décadas, mas esse objetivo compacto na lacuna de massa é uma surpresa completa [...] Estamos realmente aprimorando nosso conhecimento sobre objetos compactos de baixa massa", afirmou Vicky Kalogera, coautora do estudo, em declaração à imprensa.
A fusão cósmica resultou em um buraco negro com 25 vezes a massa solar, agora chamado de GW190814, localizado a aproximadamente 800 milhões de anos-luz da Terra.
Antes da fusão dos dois objetos, o peso do buraco negro era equivalente a nove vezes o do outro astro, chamando a atenção dos cientistas, já que essa diferença geralmente é menor.
"Essa descoberta implica que esses eventos ocorrem com muito mais frequência do que previmos, tornando esse um objeto de baixa massa realmente intrigante. Pode ser uma estrela de nêutrons se fundindo com um buraco negro, mas com 2,6 vezes a massa do Sol ela excederia as previsões modernas para a massa máxima de estrelas de nêutrons", afirmou Kalogera.
De acordo com cientistas, a distância da Terra e a grande diferença de tamanho entre os astros podem explicar a falta de luminosidade entre os astros, que não foram detectados por instrumentos que captam luz.
"Essa observação é mais um exemplo do potencial transformador do campo astronômico das ondas gravitacionais, que traz novas ideias a cada detecção", afirmou Pedro Marronetti, coautor do estudo.
Agora, cientistas esperam esclarecer a natureza dos objetos que existem na "lacuna de massa".
"À medida que os detectores se tornarem mais sensíveis, observaremos mais sinais e seremos capazes de identificar as populações de estrelas de nêutrons e buracos negros no Universo", concluiu.