Segundo modelo estatístico alimentado por pesquisadores do Laboratório de Estatística e Geoinformação, da Universidade Federal do Paraná, o contágio da doença está se disseminando de forma mais rápida nessas duas regiões.
No Sul, uma pessoa está infectando em média outras 1,23, índice que sobe para 1,35 no Centro-Oeste. Quando o indicador é maior do que um, o número absoluto de infectados aumenta exponencialmente.
No Norte, o índice de transmissibilidade, que já foi maior do que um, hoje está em 0,86, o que também acontece no Nordeste, que registra taxa de 0,92.
Para o epidemiologista Márcio Bittencourt, professor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, em São Paulo, a explicação para o deslocamento da COVID-19 é "temporal" e "geográfica".
"É simplesmente uma questão temporal. A epidemia está evoluindo com uma progressão geográfica, vindo dos primeiros epicentros no Norte e em São Paulo. Ela passa de uma pessoa para outra, então a progressão é geográfica, seguindo o trajeto das estradas e conexões aéreas e fluviais", explicou.
'Vai chegar a todos os lugares'
O especialista concorda que o distanciamento social adotado no país, e em alguns casos o lockdown, contribuiu para que a transmissão ficasse mais "lenta".
No entanto, ele avalia que se medidas para conter a disseminação da COVID-19 não forem tomadas, a tendência é de que a enfermidade continue se espalhando e atinja todos os lugares do Brasil, ainda que de maneira "devagar".
"Se medidas mais agressivas adicionais não forem tomadas, uma hora eventualmente ela vai chegar a todos os lugares", afirmou.
Apesar de alertas de especialistas e do número de casos e mortes continuarem altos, várias cidades e estados do Brasil estão adotando medidas de flexibilização da quarentena.
"Agora está se expandindo para o interior de São Paulo, para o restante do Sudeste, incluindo Minas Gerais, para o Centro-Oeste, em todos os estados, principalmente Goiás, para o Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul", indicou o epidemiologista.
'A doença está em aceleração'
Segundo números do Ministério da Saúde atualizados na quinta-feira (25), a região Centro-Oeste tem 77.098 casos da COVID-19 e 1.416 mortes, enquanto o Sul contabiliza 62832 casos e 1.328 óbitos. A região mais afetada é a Sudeste, com 427.499 casos e 25.505 mortes.
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— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) June 25, 2020
"A doença está em aceleração, mantendo uma velocidade de progressão acima de um em praticamente todo o Centro-Oeste e todo o Sul, e até na maior parte do Sudeste, tirando talvez o Rio de Janeiro", afirmou Bittencourt.
Em um cenário como esse, o epidemiologista critica a postura adotada por algumas cidades em relação ao distanciamento social.
"Tem cidades que estão com casas de shows abertas e parques de entretenimento, tem cidade com restaurantes, bares e academias abertos, então não sei exatamente quais são as cautelas tomadas em cada lugar", lamentou.
Distanciamento social não basta
O especialista diz ainda que as medidas para controlar a disseminação do vírus deveriam ter sido adotadas de forma mais "agressiva", e ressalta que "há muito mais coisa a se fazer" além do distanciamento social, como, por exemplo, uma "testagem mais intensa".
"Mesmo onde as cautelas de distanciamento foram tomadas, ainda assim a gente deveria estar isolando individualmente todos os casos, fazendo quarentena de todos os contatos e usando medidas de bloqueio", opinou Márcio Bittencourt.