O governo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou na quinta-feira (25) o nome de Carlos Alberto Decotelli da Silva para o comando do Ministério da Educação (MEC). Decotelli é o terceiro homem a liderar a pasta, que tem sido fonte de polêmicas desde o início do governo Bolsonaro, com a passagem de Ricardo Vélez e Abraham Weintraub como ministros.
Decotelli é economista e oficial da reserva da Marinha, tendo chefiado o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ainda em 2019. Antes de aceitar o cargo como ministro, Decotelli estava na Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp), parte do MEC.
Para Lincoln Araújo, pedagogo, professor e diretor da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é importante salientar que a nomeação do novo ministro se dá em meio a uma crise "aguda" do governo Bolsonaro, que inclui a pandemia do novo coronavírus e também a recente prisão de Fabrício Queiroz.
Segundo o pedagogo, a nomeação de Decotelli tenta garantir governabilidade e o perfil do novo ministro - ex-militar e técnico do MEC - busca aparar arestas do governo com políticos do Centrão e com os militares. Apesar disso, Araújo aponta que Decotelli deve seguir em frente com as propostas bolsonaristas na Educação, um programa que o pedagogo classifica como "vazio".
"A minha expectativa então é muito reduzida em relação ao governo Bolsonaro e em relação ao ministro Decotelli. Até porque eu entendo que ele vai provavelmente acelerar a pauta do programa do governo Bolsonaro para a Educação, que é inócua, é vazia, descabida", afirma o educador em entrevista à Sputnik Brasil.
"O investimento e o aceno do MEC hoje, já com Weintraub, e agora com Decotelli, com certeza será a abertura da educação à distância de capital privado, internacional, no nosso meio, criando mais uma vez um fosso de exclusão social", avalia o educador.
Araújo vê a entrada de Decotelli com pessimismo, mas entende que o novo gestor trará mais bom senso para o comando do MEC tendo em vista a gestão turbulenta de seu antecessor, Abraham Weintraub.
"Eu vejo que nada mudou, o que vai mudar, essa é minha esperança, é o mínimo de bom senso daquele que será o gestor da educação nacional a partir da posse do novo ministro Carlos Alberto Decotelli", afirma.
Desgaste com os militares e primeiro ministro negro
O pedagogo Lincoln Araújo afirma que o governo Bolsonaro tem preenchido cargos com militares com o objetivo de garantir apoio do setor. No entanto, ele especula que o segmento teria uma insatisfação crescente com o governo devido ao desconforto gerado por acusações de corrupção, como a suposta ligação da família Bolsonaro com milícias, suspeita levantada no caso da prisão de Fabrício Queiroz.
"Acho que os militares começam a ter um incômodo em relação ao governo Bolsonaro. Porém há uma tradição militar em relação ao cumprimento das missões. Essa ordem de pensamento, essa lógica de pensamento é o que pode, de certa forma, ajudar um pouco o governo Bolsonaro, que é desprovido de projeto nacional de país. O professor Decotelli entra nesse campo de cotas militares", acredita Araújo.
Decotelli é também o primeiro ministro negro do governo Bolsonaro. Sobre isso, Araújo chama a atenção para figuras negras próximas de Bolsonaro como o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, e o deputado federal Hélio Lopes, que negam a questão racial.
Para o pedagogo, será importante prestar atenção no novo ministro em relação, por exemplo, ao posicionamento quanto à política de ações afirmativas nas universidades públicas, as chamadas "cotas raciais". Porém, Araújo alerta que a postura do novo ministro pode trazer problemas com o presidente.
"Nós vamos ficar na expectativa de como o professor Carlos Alberto Decotelli vai acompanhar essa questão, principalmente a política de cotas nas universidades públicas, sabendo que o presidente Bolsonaro, por conta de sua personalidade, não aceita nenhum ministro que seja a estrela do governo - porque quem tem que ser a estrela do governo é o próprio Bolsonaro", avalia.