O primeiro-ministro britânico Boris Johnson disse na quarta-feira (1º) que se a China adotar leis de segurança nacional em Hong Kong, muito debatidas, milhões de seus residentes serão elegíveis para o passaporte nacional britânico no exterior (BNO).
Atualmente, o passaporte permite que os titulares entrem no Reino Unido sem visto por seis meses, mas as leis de imigração britânicas podem ser alteradas de forma que os cidadãos estrangeiros possam permanecer no país por um período renovável de 12 meses - e se tornar cidadãos britânicos no futuro.
Nesta quinta-feira (2), diplomatas chineses reagiram à promessa de Johnson, dizendo que era uma afronta à sua soberania e uma violação dos acordos de Londres com Pequim. O Reino Unido declarou uma vez que "não conferirá o direito de residência a cidadãos chineses em Hong Kong que possuam passaportes BNO", lembrou a Embaixada da China em Londres.
Se for permitido emigrar em massa em Hong Kong, isso violaria a "própria posição e promessas do Reino Unido, bem como o direito internacional e as normas básicas que regem as relações internacionais", acrescentou.
"Nos opomos firmemente a isso e nos reservamos o direito de tomar as medidas correspondentes", alertou a Chancelaria chinesa.
O embaixador chinês Liu Xiaoming observou que nada na declaração conjunta sino-britânica que retorna Hong Kong à China confere ao Reino Unido "soberania, jurisdição ou direito de supervisão" sobre a ex-colônia.
Ecoando inúmeras declarações de autoridades chinesas, ele afirmou que os assuntos de Hong Kong se enquadram na jurisdição da China e "não impedem interferência externa".
"Longe vão os dias em que Hong Kong estava sob o domínio colonial britânico", escreveu ele no Twitter.
Enquanto isso, o secretário de Relações Exteriores britânico Dominic Raab reconheceu que há pouco que o país pode fazer "para forçar a China a permitir que os BNOs venham para o Reino Unido". Ainda assim, Londres usará a "influência diplomática" para convencer Pequim a não promulgar as leis de segurança de Hong Kong.
À medida que a disputa diplomática se desenrolava, milhares de residentes de Hong Kong saíram às ruas no aniversário da transferência de 1997 do Reino Unido para a China para desrespeitar a legislação que entrou em vigor na noite de terça-feira (30). Os protestos viraram confrontos com a polícia, que usou canhões de água, gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra a multidão.
Os manifestantes acreditam que a legislação - que proíbe secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras - silenciará a dissidência e significará o fim do status autônomo especial de Hong Kong. Pequim insiste que apenas busca aumentar a segurança e garantir a estabilidade na região, e que sempre exigiu que os países que apoiam protestos pró-independência parem de se intrometer nos assuntos internos da China.