No primeiro sábado (4) após o início da terceira fase da reabertura das atividades no Rio de Janeiro, a Zona Sul da cidade registrou alguma movimentação ao longo do dia, mas o tempo nublado e a temperatura relativamente baixa para os padrões cariocas frustraram quem esperava ver praias, bares, restaurantes e ruas com movimentação maior do que a das últimas semanas.
Houve, sim, mais gente na rua do que o recomendado pela maioria dos especialistas em saúde pública para esse período de disseminação do novo coronavírus. Mas a quantidade de pessoas que decidiu encarar o mau tempo para desfrutar dos privilégios da flexibilização foi menor do que a verificada em dias de sol quando as medidas de isolamento na capital fluminense eram mais restritivas.
Grande parte dos aventureiros de plantão era formada por pessoas que estavam passeando ou realizando atividades esportivas, muitos de acordo com as determinações de segurança elaboradas pela prefeitura, e muitos outros, não.
Na rua, sim, mas por falta de opção
Como tem acontecido desde a chegada da COVID-19 ao Brasil, segundo país mais afetado pela pandemia, muitas pessoas, por vontade própria ou de seus empregadores, são obrigadas a desafiar os riscos de contaminação para não morrer de fome e prover o básico às suas famílias.
"Eu acho um absurdo. Mais de 60 mil mortos e o comércio aberto, como se nada estivesse acontecendo", desabafou uma funcionária de uma grande loja no bairro de Ipanema.
Uma dessas pessoas sem opção é o artista de rua Roberson Martins de Carvalho, que tem se dedicado ao artesanato na expectativa de obter algum recurso e atenuar as consequências das dificuldades impostas pelo surto do novo coronavírus.
Conhecido como Chaplin Carioca, o artista, que é pai de família, teve seu pedido de auxílio emergencial negado e, para se manter, tenta vender o seu trabalho no calçadão de Copacabana, principalmente nos finais de semana.
"É um pouco complicado, porque as pessoas, neste momento, não estão gastando dinheiro com coisas supérfluas. E o artesanato é uma coisa supérflua. As pessoas estão gastando mais com coisas de alimentação, coisas mais importantes para esse momento", disse em declarações à Sputnik Brasil, afirmando entender que aqueles que compram sua arte estão, principalmente, tentando ajudá-lo e, por isso, ele é muito grato.
Movimentação em outras partes do Rio
O clima hostil que conteve aglomerações na Zona Sul durante a manhã e a tarde deste sábado (4) não impediu uma movimentação significativa na região central da cidade.
Testemunhas ouvidas pela Sputnik Brasil relataram ter visto intenso comércio em algumas partes e muitas pessoas circulando entre ruas e lojas sem seguir algumas orientações básicas de segurança, como o uso da máscara, por exemplo.
Movimentações também foram verificadas em bairros da Zona Oeste e da Zona Norte da capital, mas, para os empresários, ainda aquém do desejado, apesar do grande número de estabelecimentos já abertos.
Surto da COVID-19 no Rio de Janeiro
De acordo com dados oficiais disponibilizados pelo Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro contabiliza 120.440 casos confirmados de pessoas contaminadas pela COVID-19 desde o início do surto no país, enquanto as mortes somam 10.624 no estado. Em todo o Brasil, são pelo menos 1.577.004 casos e 64.265 óbitos.
Na última quarta-feira (1º), o prefeito Marcelo Crivella anunciou, para o dia seguinte, o primeiro estágio da terceira etapa da reabertura no Rio de Janeiro, a fase "3A". A fase "3B" deve ser iniciada em uma semana.
O principal objetivo da flexibilização é retomar as atividades econômicas pela cidade, altamente afetada pelo fechamento de uma série de estabelecimentos ao longo dos últimos meses.
No entanto, após uma noite de bares cheios, na última quinta-feira (2), e vários estabelecimentos multados por não cumprir todas as exigências de segurança, a expectativa de um aumento constante na demanda por parte de alguns comerciantes não se confirmou. Alguns deles, ouvidos neste sábado (4) pela Sputnik, disseram que, embora tenham notado alguma melhora, essa melhora ainda não foi significativa.
Apesar da decisão do prefeito Crivella e da pressão econômica, vários especialistas da área médica consideram precipitadas as medidas de relaxamento que vêm sendo adotadas tanto no Rio como em outras partes do Brasil, uma vez que não há evidências de que o surto do novo coronavírus já esteja controlado no país.