O estudo, publicado na revista Science, destaca também que 17% das exportações brasileiras de carne bovina para a UE estão ligadas ao desmatamento.
O professor de Relações Internacionais da ESPM/SP, Leonardo Trevisan, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que este artigo "coloca lenha na fogueira" nas expectativas daqueles que apoiam o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
"A contaminação da imagem dos produtos agrícolas brasileiros pela questão ambiental não atingirá apenas a questão da soja", disse ele.
O especialista destacou que a expectativa brasileira de expansão do agronegócio "é muito real", tendo em vista que a porcentagem brasileira de soja obtida por hectar implantado é muito grande e a produção brasileira tem muita tecnologia e produtividade.
Leonardo Trevisan faz a ressalva, entretanto, que o Brasil não pode ignorar a questão ambiental ao ter a garantia da demanda chinesa.
"Se nós observarmos que apenas 20% das nossas exportações de soja tomam o rumo da União Europeia, e imaginarmos que estamos tranquilos, porque 64% dessa exportação toma o rumo da China, que teoricamente não estaria contaminada por essa questão ambiental, é um ledo engano", disse.
De acordo com ele, a China usará as pressões internacionais quanto à questão ambiental para definir preços em relação ao Brasil.
"O prejuízo maior na relação com a China será isso. Se nós perdermos a difusão de vendas, o nosso único comprador fixará o preço. Estas regras são inevitáveis", destacou.
"A questão ambiental, portanto, quando todos os nossos empresários chamam a atenção para o cuidado com este fato, não é apenas porque um investidor externo irá olhar com mais cautela este investimento para um país que não cuida da questão ambiental, mas é porque isto incidirá diretamente no preço. Será um mau negócio", acrescentou o especialista.
Ao comentar o artigo que destaca que importações de soja da União Europeia (UE) vindas do Brasil pode ter origem de terras ilegalmente desmatadas, o especialista comenta que "esta informação tem um peso comercial, é este o maior dano".
"Não é por outra razão que a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, afirma que o Brasil se comunica mal nesta questão agrícola. A comunicação não é apenas o fato de que nós nos escondemos do desmatamento, é o fato que nós não fazemos nada sobre o desmatamento", completa.