Após o adiamento das eleições municipais para os dias 15 e 29 de novembro, o período de convenções partidárias começa nesta segunda-feira (20), e os partidos terão o desafio de lançar candidaturas e tentar se colocar como melhor opção num cenário atípico da vida brasileira.
O cientista político e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Paulo Baía, em entrevista à Sputnik Brasil, observou que a eleição municipal de 2020 "se dá num momento em que se associam duas coisas: a crise sanitária, com a COVID-19, e a crise econômica, que já vinha e se aprofunda com a crise".
"A questão da COVID-19 gerou uma tragédia civil no Brasil muito grande, teve muito impacto em muitas cidades, mas não acredito que ela terá impacto de natureza política direta nas eleições. Porque os prefeitos, de alguma maneira, em todos os municípios, tomaram medidas acertadas [...] no sentido de dar providência a diminuir o ritmo de contaminação", argumentou.
De acordo com ele, a questão da pandemia "será apropriada de forma negativa ou positiva por todos os grupos políticos" durante a campanha eleitoral.
"O fato é que é uma campanha eleitoral pequena, com impacto grande na vida de todos, porque esse impacto grande se dá pela quarentena, e pelas consequências da quarentena. Você tem uma diminuição de renda, você tem um aumento da pobreza, da desigualdade social, tudo isso vai pesar na escolha do eleitor. Assim, todos os grupos políticos estão expostos da mesma maneira", afirmou.
Paulo Baía comentou que a eleição municipal deve reproduzir um cenário de polarização política das eleições de 2018, pois, segundo ele, "os candidatos preferem que a eleição seja plebiscitária".
"Esse é o cenário ideal para que se dê uma disputa entre dois candidatos. Assim, o quadro sanitário será disputado, existem dois grupos que polarizaram nas últimas eleições, que vão tentar mais uma vez reproduzir essa polarização", disse.
"Assim se descortina um outro tipo de polarização - uma polarização que vai se dar entre o atual prefeito, entre a atual gestão e aqueles grupos que querem desalojá-lo do governo [...] No campo dessas polarizações municipais se acoberta uma tentativa de polarização nacional, tendo o presidente Jair Bolsonaro como foco. Chamo a atenção que quem mais se beneficia com a polarização política é Jair Bolsonaro", disse.
De acordo com o cientista político, Jair Bolsonaro "desenha sua proposta de ação apostando na polarização, então essa foi a característica de 2018, essa é a característica do Bolsonaro ao longo da vida, e essa será sua característica". "Embora eu não creia que ele vai ter grande presença nas eleições municipais de 2020", completou.