Reino Unido continua usando equipamentos produzidos pela empresa Sepura para proteção de membros da família real, em particular os rádios utilizados por policiais, garantiu o tabloide Daily Mail neste domingo (19).
Os sistemas e aplicativos são utilizados pelos serviços britânicos de ambulância e bombeiros nos aeroportos, apesar de a proprietária da Sepura, Hytera, ter sido incluída na lista negra da Casa Branca, que afirma que seu equipamento pode ser utilizado pelas autoridades chinesas para espionagem e vigilância, uma alegação que Hytera e Pequim negam.
Após as reportagens da mídia, autoridades e especialistas exortaram o governo do premiê Boris Johnson a realizar uma revisão da Sepura e de seus dispositivos.
"Se houver qualquer dúvida de que o equipamento fornecido à nossa polícia e às Forças Armadas comprometeria de alguma forma sua segurança, isto exige investigação urgente e ação necessária. Nossos aliados norte-americanos não teriam proibido esta empresa sem uma boa razão", afirmou Matthew Henderson, diretor de estudos asiáticos da Sociedade Henry Jackson.
Malcolm Rifkind, ex-secretário britânico de Relações Exteriores, foi mais longe, afirmando que Londres deve rever todas as empresas chinesas que possam afetar a segurança nacional britânica.
"A China mudou muito nos últimos meses, por isso precisamos olhar com novos olhos. O governo deveria tratar isso como uma séria responsabilidade. Há de olhar para uma empresa em particular, revisitá-la e ver se chega ao mesmo julgamento da última vez", assevera Rifkind.
Em 2017, a Sepura ganhou um contrato de US$ 94 milhões (R$ 506,1 milhões) para fornecer 32.000 rádios para a Polícia Metropolitana de Londres. O acordo foi revisto por agências governamentais devido à propriedade da empresa e recebeu luz verde de Greg Clark, secretário de Negócios do Reino Unido.
A Hytera concordou com a realização de verificações aleatórias do Ministério do Interior, do Ministério da Defesa e da agência de inteligência do Reino Unido, Sede de Comunicações do Governo (GCHQ, na sigla em inglês).
A Hytera está entre as empresas de alta tecnologia, incluindo Huawei, ZTE, Dahua e Hikvision, que a administração do presidente norte-americano, Donald Trump, bloqueou a venda de produtos a agências governamentais, como o Departamento Federal de Investigação (FBI, na sigla em inglês) dos EUA.
Hytera disse ao Daily Mail, no entanto, que vendeu seus kits para agências federais norte-americanas através de sua divisão dos EUA, a PowerTrunk, por causa de um acordo que esta última assinou com o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) há dois anos.
Saga de empresas chinesas
Na última semana, o Reino Unido proibiu a empresa chinesa Huawei de desenvolver a rede 5G no país. Londres permitiu inicialmente a participação da gigante das telecomunicações chinesa.
No entanto, após meses de pressão da administração Trump, que advertiu o governo de Boris Johnson que fazer negócios com a Huawei poderia custar ao Reino Unido seu acordo comercial com Washington, algo que Londres precisa após o Brexit, o país britânico anunciou que não compraria o equipamento da empresa chinesa para sua rede 5G.