Pela primeira vez, um telescópio capturou uma imagem estática de dois planetas orbitando outro sistema estelar. A fotografia, publicada na quarta-feira (22) na revista científica The Astrophysical Journal Letters, foi tirada no deserto do Atacama, Chile.
Essa descoberta mostra um "ambiente muito semelhante ao nosso Sistema Solar, mas em um estágio muito anterior de evolução", explicou Alexander Bohn, estudante de doutorado e autor principal do estudo, da Universidade de Leiden, Países Baixos, em um comunicado ao Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês).
"Embora os astrônomos tenham detectado indiretamente milhares de planetas em nossa galáxia, apenas uma pequena fração desses exoplanetas foi fotografada diretamente", acrescentou o astrônomo e coautor do estudo Matthew Kenworthy, também da Universidade de Leiden.
A equipe de Bohn e Kenworthy estudou a estrela TYC 8998-760-1, de 17 milhões de anos, localizada a cerca de 300 anos-luz, usando o instrumento de pesquisa de exoplanetas espectro-polarimétrico de alto contraste do telescópio VLT, mais conhecido como SPHERE.
O instrumento usa um dispositivo chamado coronógrafo para bloquear a luz ofuscante de uma estrela, permitindo aos astrônomos ver e estudar planetas em órbita que, de outra forma, se perderiam no clarão.
Os dois planetas detectados são enormes e distantes. O primeiro, TYC 8998-760-1b, é cerca de 14 vezes mais pesado que Júpiter e orbita a uma distância média de 160 unidades astronômicas (UA).
A UA é a distância média entre a Terra e o Sol, e é estimada em aproximadamente 150 milhões de quilômetros, portanto, TYC 8998-760-1b se localiza a quase nove bilhões de quilômetros de distância da Terra.
O segundo planeta fotografado, TYC 8998-760-1c, é considerado seis vezes mais pesado que Júpiter e está a cerca de 320 UA da estrela anfitriã, ou seja, a cerca de 18 bilhões de quilômetros de distância.
Métodos de observação
A peculiaridade desta descoberta é que os astrônomos geralmente confirmam planetas ao redor de outras estrelas observando um breve, mas contínuo, escurecimento da estrela anfitriã, indicando um planeta em órbita. Tais observações indiretas identificaram milhares de planetas em nossa galáxia, a Via Láctea.
É muito mais difícil e menos comum para um telescópio observar diretamente esses chamados exoplanetas. Detectar dois deles diretamente em torno da mesma estrela é ainda mais raro. De acordo com o ESO, apenas dois sistemas solares multiplanetários foram detectados usando o método direto, ambos com estrelas bem diferentes do nosso Sol.
Dos 4.183 exoplanetas confirmados até hoje, apenas 48 deles foram fotografados diretamente, o equivalente a 1%, de acordo com estatísticas da agência espacial norte-americana NASA. Graças a essas observações, os cientistas poderão compreender melhor a evolução do nosso Sistema Solar.