A abertura dessa investigação foi confirmada neste sábado (25) pelo Ministério Público Nacional de Combate ao Terrorismo (PNAT) em declarações à AFP, um dia depois da publicação de um artigo da imprensa francesa revelando o paradeiro de um dos alegados "arquitetos" de um dos maiores massacres da história.
Na última sexta-feira (24), a Mediapart publicou uma matéria afirmando ter descoberto o suposto genocida vivendo nos subúrbios de Orleans, no centro-norte da França, dois meses após a prisão de outro envolvido no genocídio de Ruanda, Félicien Kabuga, nos arredores de Paris.
Procuradores do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR) acusaram o major-general Ntiwiragabo, no passado, de ter sido um dos principais responsáveis pelo genocídio do grupo étnico tutsi em 1994, que, segundo as Nações Unidas, teria deixado pelo menos 800.000 mortos.
#Rwanda Une enquête préliminaire ouverte contre Aloys Ntiwiragbo dont j’ai révélé la présence en France. dans @Mediapart hier. La France ne l’avait pas arrêté malgré plusieurs occasions. https://t.co/ssTgBk7sXq
— Theo Englebert (@TheoEnglebert_) July 25, 2020
Uma investigação preliminar aberta contra Aloys Ntiwiragbo, cuja presença na França eu revelei ontem no Mediapart. A França não o prendeu, apesar de várias oportunidades.
Além de sua suposta participação de destaque no genocídio de 1994, também é acusado de ser um dos fundadores, em 2000, da milícia conhecida como Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR), que atua até hoje no leste da República Democrática do Congo.
França deve explicações, dizem ativistas
Após as revelações da Mediapart, a organização Ibuka, que defende a memória das vítimas do genocídio de Ruanda e a punição de seus responsáveis, divulgou uma nota cobrando a prisão do ex-militar ruandês e explicações das autoridades francesas sobre o refúgio dado a criminosos como Ntiwiragabo, que chegou a se apresentar em consulados franceses no Sudão e no Níger quando era procurado pela Justiça internacional.
"Por que tantos supostos genocidas 'em fuga' encontram na França um asilo pacífico, a exemplo de Ntiwiragabo e Félicien Kabuga, presumido financiador do genocídio, preso no último 16 de maio em Asnières-sur-Seine?", questiona o grupo.