No último final de semana, várias capitais litorâneas registraram forte fluxo de pessoas nas praias – mesmo com a conhecida proibição por parte das autoridades municipais e estaduais em alguns casos. O mesmo se viu em bares e restaurantes.
As aglomerações são abertamente censuradas pelos governantes e profissionais da saúde, uma vez que a proximidade entre as pessoas é um dos elementos para disseminação do novo coronavírus, que já infectou mais de 16 milhões de pessoas em todo o mundo.
De acordo com a psicóloga clínica e psicanalista Katia Quiala, a "transgressão das orientações das autoridades sanitárias no Brasil é resultante de um processo histórico", que remonta aos primeiros anos da República Velha no início do século XX.
"Naquela época, o setor de saúde não era organizado em uma estrutura capaz de enfrentar os graves problemas de saúde, e os instrumentos de combate às pestilências como a varíola e a febre amarela, por exemplo, eram justamente campanhas de vacinação obrigatória, cuja condução foi considerada arbitrária devido a violência física e psicológica à qual a população foi submetida", relembrou ela à Sputnik Brasil.
A especialista ainda comentou que há hoje uma situação mais definida, protagonizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas isso não significa uma possibilidade de maior esclarecimento e acesso a saúde e informação - em um país com quase 88 mil óbitos pela doença.
"Hoje, o setor de saúde é organizado, estruturado, porém encontra-se enfraquecido justamente pelo choque de interesses sociais, políticos e econômicos, que além de descredibilizar as autoridades, ainda influenciam negativamente a população no exercício dos seus direitos e deveres", afirmou.
A psicanalista ouvida pela Sputnik Brasil reforçou a questão da informação para ajudar a compreender o desrespeito por parte de parte da população das orientações em prol da saúde e da vida. Segundo ela, o volume de dados e posições tem ajudado não a esclarecer, porém muitas vezes a desorientar os cidadãos.
"A informação é importante, mas em um momento de crise mundial, o esclarecimento se torna essencial e nós vemos hoje uma população que deveria estar sendo orientada e esclarecida sendo alvo de informações, do excesso de informações, informações contraditórias, informações divergentes, no âmbito da saúde, no âmbito político, social e econômico", sentenciou.
Questionada se o desrespeito do isolamento social poderia ser classificado como uma doença, Katia Quiala esclareceu que sim. De acordo com a psicanalista, muitos têm prazer em transgredir aquilo que está estabelecido como o correto, algo que possui um viés patológico.
"Sim, existem estrutura psíquicas que reagem com prazer ao ato de transgredir, de infligir, de burlar as leis e isso pode ser sim considerado um transtorno e, portanto, patológico", concluiu.