Foi a primeira de uma série de manifestações agendadas para este fim de semana, que serão realizadas em várias cidades do país.
Bruno Candé foi morto com quatro tiros à queima roupa quando estava sentado em um banco, em plena luz do dia, em uma movimentada avenida de Loures, cidade vizinha a Lisboa, no último sábado (25). O autor dos disparos, um homem branco de 76 anos, está em prisão preventiva, indiciado por homicídio qualificado e posse de arma ilegal.
O ator costumava ficar sempre no mesmo ponto, acompanhado da cadela, e era conhecido na área. Moradores disseram à polícia que atirador e vítima tinham se desentendido anteriormente.
Em comunicado enviado à imprensa, a família do ator afirmou que o crime foi premeditado e motivado por racismo. "O seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas", lê-se na nota. A polícia ainda não confirma a motivação.
Durante a manifestação, os familiares, bastante emocionados, foram amparados por ativistas que encabeçaram a organização do ato.
"Eu espero que mude algo e que haja leis para punir. O principal, se calhar é começar na educação, desde a infância. Se começar pela educação nos infantários esses meninos, se tiverem pais racistas, vão dizer 'ensinaram-nos na escola que não devemos fazer isto'. É isso que queremos", disse à Sputnik Brasil a irmã mais velha da vítima, Olga.
Usando máscaras e de maneira pacífica, os manifestantes gritaram por justiça e usaram cartazes para denunciar casos de racismo e violência policial ocorridos no país. Também relembraram as palavras de ordem do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).
Bruno Candé chegou a atuar em uma novela, mas teve a carreira recente dedicada ao teatro. Tinha 39 anos e deixa três filhos.
"Ele era a alegria da casa, da família. A partir de agora não sabemos como vai ser o Natal, os dias das festas. É um vazio muito grande. Vamos ter que lidar com as crianças, que, quando crescerem, vão saber o que se passou", disse a irmã.
O Parlamento de Guiné-Bissau, que foi colônia de Portugal até 1973, aprovou o envio de uma delegação ao país para acompanhar autoridades envolvidas no caso e monitorar a situação da comunidade guineense residente. Os deputados também cobraram urgência nos procedimentos para punição do acusado.
Por outro lado, conservadores têm reagido contra a motivação racial para o homicídio. Único representante do partido de extrema-direita Chega no Parlamento português, o deputado André Ventura convocou uma "contramanifestação" para o próximo domingo (2).
"Sempre que a esquerda sair à rua para dizer que Portugal é um país racista, nós sairemos à rua com o dobro da força para mostrar que Portugal não é", disse o deputado durante sessão parlamentar.
Será a segunda vez que o Chega reage a protestos nacionais contra o racismo. No mês passado, o partido juntou apoiadores durante uma passeata em resposta à mobilização pela morte do norte-americano George Floyd realizada em Lisboa.