A testagem insuficiente continua sendo um grande problema no país sul-americano, mas a IA está ajudando a preencher essa lacuna, graças a um sistema chamado RadVid-19 desenvolvido usando algoritmos da empresa alemã Siemens e da empresa chinesa Huawei.
O Brasil foi mais afetado pela pandemia do que qualquer outro país, exceto os Estados Unidos, com quase 2,8 milhões de infecções e mais de 95 mil mortes. Especialistas afirmam que os números seriam muito maiores se houvesse mais testes generalizados.
O RadVid-19 procura preencher essa lacuna e ajudar os médicos a decidir o curso certo de tratamento para seus pacientes. Ele analisa radiografias de tórax e tomografias computadorizadas para encontrar manchas nos pulmões dos pacientes que são provavelmente marcadores de infecção pelo novo coronavírus.
"O software identifica essas áreas e estima a probabilidade de um caso de COVID-19", explicou Márcio Sawamura, vice-chefe do centro de radiologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à Agência AFP.
O programa mostra aos médicos na tela do computador como os pulmões de seus pacientes estão mudando ao longo do tempo e permite que eles analisem os círculos branco e amarelo marcando uma infecção em potencial.
O software está sendo usado por 43 hospitais brasileiros, 60% deles públicos, graças em parte ao financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Entretanto, ele não é um substituto para um diagnóstico em laboratório por um médico.
Contudo, isso pode ajudar os médicos a decidirem qual tratamento seguir durante a espera, às vezes longa, dos resultados do laboratório, em um país onde nenhuma campanha de testes em larga escala foi lançada e o presidente Jair Bolsonaro enfrenta críticas por minimizar a pandemia.
"Como o Brasil está testando menos do que deveria, as tomografias e os raios-X acabam sendo utilizados como ferramentas de diagnóstico", disse Arthur Lobo, radiologista em Belém. "Isso nos ajudou a obter diagnósticos quando estávamos em dúvida".
Isso foi um alívio bem-vindo nos estágios iniciais da pandemia no Brasil, quando os médicos estavam correndo para acompanhar uma curva de infecção que explodia rapidamente, comentou Claudia Leite, professora do Departamento de Radiologia e Oncologia da Universidade de São Paulo.
"No começo, estávamos realmente angustiados, porque às vezes os resultados do laboratório demoravam muito para voltar e o paciente começava a piorar, desenvolvendo dificuldade respiratória e ainda não tínhamos um diagnóstico", afirmou ela.
Usando a IA, ela prosseguiu, "conseguimos concluir que era COVID e tomar as medidas certas. E os resultados dos testes confirmaram mais tarde".
O RadVid-19 analisou 10.700 radiografias e tomografias computadorizadas no final de julho. Por ora, os pesquisadores ainda estão avaliando sua taxa de precisão.