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Ajuda ao Líbano é positiva, mas imagem do Brasil segue desgastada no exterior, dizem analistas

© AP Photo / Silvia IzquierdoJair Bolsonaro recebe abraço de Michel Temer em sua tomada de posse, Brasília, 1º de janeiro de 2019
Jair Bolsonaro recebe abraço de Michel Temer em sua tomada de posse, Brasília, 1º de janeiro de 2019 - Sputnik Brasil
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Neste domingo (9), o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, anunciou o envio de ajuda humanitária para o Líbano, após a tragédia em Beirute. A Sputnik Brasil ouviu dois pesquisadores de Relações Internacionais que destacaram a importância da medida e avaliaram as consequências políticas do anúncio em meio à pandemia.

Na terça-feira (4), uma explosão de grandes proporções arrasou a região portuária de Beirute, capital libanesa, deixando mais de 150 mortos e pelo menos seis mil pessoas feridas, além de outros milhares de desalojados. Diante da situação de emergência no país, o Brasil participou de uma reunião com líderes internacionais neste domingo (9) e anunciou o envio de ajuda técnica e humanitária para o Líbano. Bolsonaro indicou o ex-presidente Michel Temer para liderar a missão, que se disse "honrado" em aceitar o convite.

​​A posição brasileira é vista como algo positivo e responde à tradição da comunidade libanesa no Brasil e à importância diplomática das relações bilaterais entre os países, segundo o pesquisador Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

"O Brasil agiu da maneira correta. O Líbano é um país importante para o Brasil, principalmente por questões ligadas à imigração. A gente tem uma quantidade muito grande de brasileiros de ascendência árabe, um número que é estimado entre seis e dez milhões de brasileiros, e boa parte deles é ou de origem síria, ou de origem libanesa", aponta o professor Maurício Santoro em entrevista à Sputnik Brasil.
© REUTERS / Mohamed AzakirEm Beirute, dois homens caminham no local de uma grande explosão ocorrida na capital libanesa em 4 de agosto de 2020.
Ajuda ao Líbano é positiva, mas imagem do Brasil segue desgastada no exterior, dizem analistas - Sputnik Brasil
Em Beirute, dois homens caminham no local de uma grande explosão ocorrida na capital libanesa em 4 de agosto de 2020.

O analista destaca ainda que essa comunidade é expoente também na política, citando o próprio ex-presidente Michel Temer e também ex-governadores e ex-ministros como Paulo Maluf, Tasso Jereissati, Gilberto Kassab e Fernando Haddad.

"Claro, existem as limitações que vêm desse momento de crise econômica, desse momento de crise na saúde pública por causa da pandemia, mas aquilo que o Brasil puder fazer é bem-vindo e é importante", avalia Santoro.
© REUTERS / Mohamed Azakir Imagem da zona portuária de Beirute depois da forte explosão que atingiu a capital do Líbano, 5 de agosto de 2020
Ajuda ao Líbano é positiva, mas imagem do Brasil segue desgastada no exterior, dizem analistas - Sputnik Brasil
Imagem da zona portuária de Beirute depois da forte explosão que atingiu a capital do Líbano, 5 de agosto de 2020

O pesquisador Guilherme Casarões, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), também avalia a posição brasileira de forma positiva, e acredita que a postura seria a mesma em outros governos.

"O anúncio, em linhas gerais, é correto. Além de termos uma tradição de ajuda humanitária e cooperação com os países em desenvolvimento, o Brasil é lar de milhões de descendentes de libaneses. Nesse sentido, penso que qualquer governo brasileiro faria o mesmo", aponta Casarões em entrevista à Sputnik Brasil.

Pandemia no Brasil e ajuda ao Líbano exigem esforços distintos

O anúncio de envio de ajuda humanitária ao país do Oriente Médio vem no dia seguinte da chegada do Brasil à marca de 100 mil mortos por COVID-19, o que não rendeu comentários do presidente Jair Bolsonaro.

Para o professor Maurício Santoro, o envio de ajuda ao Líbano, porém, não impacta na crise do novo coronavírus no Brasil. Segundo ele, se tratam de duas situações diferentes e com exigências de recursos distintos.

"No caso brasileiro, o problema da pandemia não tem sido uma escassez de recursos, é uma questão de negacionismo do presidente, uma dificuldade dele em aceitar fatos científicos básicos, como a necessidade de se fazer isolamento social, respeitar a quarentena. Então se a gente mandar, digamos, toneladas de comida para o Líbano, isso não vai ter impacto, para o bem ou para o mal, na tragédia que vem sendo a pandemia aqui no Brasil", diz Santoro.  
© Folhapress / Felipe DuestAto da ONG Rio de Paz sobre as 100 mil mortes por COVID-19 no Brasil, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 8 de agosto de 2020.
Ajuda ao Líbano é positiva, mas imagem do Brasil segue desgastada no exterior, dizem analistas - Sputnik Brasil
Ato da ONG Rio de Paz sobre as 100 mil mortes por COVID-19 no Brasil, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 8 de agosto de 2020.

O pesquisador Guilherme Casarões vai na mesma linha, e aponta que o combate à COVID-19 e a ajuda humanitária "não são coisas excludentes". O pesquisador, no entanto, aponta que é "chocante" o silêncio de Bolsonaro em relação aos 100 mil mortos no Brasil.

"Há orçamento e estrutura institucional para o desempenho adequado de ambas as tarefas. O Brasil sempre sofreu inúmeras mazelas sociais, violência extrema e isso nunca nos impediu de assumir um papel internacional proativo e solidário. O chocante, no caso do presidente Bolsonaro, é o absoluto silêncio frente às mais de 100 mil vidas perdidas no Brasil, em contraste às mensagens autocongratulatórias ou desnecessárias (como sobre a vitória do Palmeiras no Campeonato Paulista) postadas nas redes sociais", avalia Casarões.

Medida pode ter maior impacto político positivo dentro do que fora do Brasil

O pesquisador Guilherme Casarões acredita que a medida anunciada por Bolsonaro neste domingo (9) pode repercutir positivamente entre os apoiadores do presidente, além de fortalecer determinados laços.

"Tenho a impressão de que o anúncio da ajuda brasileira serve, principalmente, para consumo interno. Ajuda a consolidar a imagem de estadista do presidente, em fotos e mensagens que circulam rapidamente nas redes sociais. Aproxima Bolsonaro da comunidade libanesa e fortalece a narrativa de boas relações com o governo Trump", aponta o analista.
© Folhapress / Paulo Guereta / Photo PremiumChanceler Ernesto Araújo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo
Ajuda ao Líbano é positiva, mas imagem do Brasil segue desgastada no exterior, dizem analistas - Sputnik Brasil
Chanceler Ernesto Araújo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo

Apesar disso, Casarões recorda que o governo Bolsonaro tem atualmente uma imagem desgastada no exterior devido a uma série de políticas internas, o que não deve mudar com o anúncio em relação ao Líbano.

"Por outro lado, os parceiros internacionais do Brasil ainda me parecem muito reticentes quanto ao presidente brasileiro, tanto pelo seu histórico de brigas (com o próprio Macron, um ano atrás) quanto pela condução desastrosa da pandemia", finaliza.
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