Segundo dados do IBGE divulgados na última sexta-feira (7), a população brasileira fora da força de trabalho (que não estava trabalhando nem procurando trabalho) passou de 76,9 milhões para 76,2 milhões de pessoas.
Desse número, 28 milhões disseram que gostariam de trabalhar, mas pararam de buscar vagas. E, desses 28 milhões, 18,6 milhões afirmaram que não estão procurando trabalho por conta da pandemia da COVID-19 ou por não encontrarem ocupação no lugar onde moram.
Segundo a psicóloga e psicanalista Elaine Starosta Foguel, a desocupação gerada pela crise do coronavírus abalou profundamente uma grande parcela da população.
"Nos primeiros quatro meses da crise que estamos passando, essa geração já foi profundamente abalada pela suspensão da atividade da construção civil, na qual mulheres e homens encontram tarefas que lhes dão parcos recursos, mas que lhes ajudam com a sobrevivência, assim como outras atividades e subempregos que foram suspensos para evitar o contágio", disse a especialista.
'Retrocesso' com 'custo altíssimo'
Além disso, Foguel afirma que a pandemia acabou arrastando de volta para o desalento pessoas que tinham conseguido um emprego formal.
"A COVID-19 não apenas afetou negativamente aqueles que já estavam nas terríveis estatísticas dos nem-nem, mas também arrastou para dentro dessas estatísticas jovens que conseguiram ascender para um emprego formal, com perspectivas de uma carreira, e que se veem agora na condição nem-nem, o que configura para eles, naturalmente, um retrocesso", disse a presidente da Associação Psicanalítica de Porto Alegre.
Segundo a especialista, esse retrocesso tem um "custo altíssimo" e causa um "sentimento de fracasso, desilusão, fraqueza, revolta e desinteresse".
Desemprego no Brasil sobe para 13,3% no 2º trimestre, atingindo 12,8 milhões de pessoas https://t.co/kcyoQOLm5T pic.twitter.com/bnMtd4SsXx
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) August 6, 2020
'Fenômeno antigo' no Brasil
Foguel explica que a termo geração nem-nem foi criado na Espanha para se referir a uma geração de jovens que não trabalhava e não estudava, problema causado pela crise econômica que atingiu o país em 2009.
No Brasil, no entanto, ela explica que o fenômeno surgiu há muito mais tempo, e é questão estrutural do país.
"O nem estuda e nem trabalha no Brasil é um fenômeno antigo, faz parte da estrutura social do país, no qual jovens entre 18 e 24 anos não estudam porque a eles não se ofereceu, desde cedo, essa oportunidade intrínseca à legislação brasileira, que seria e educação universal", afirmou a psicóloga.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012 os nem-nem eram 9,7 milhões, em universo de 49,4 milhões de jovens entre 15 e 29 anos. De acordo com o instituto, entre 2016 e 2017, cerca de 619 mil se juntaram a esse grupo, somando 10,3 milhões de pessoas.
Pandemia expõe fragilidades
Para piorar, pesquisa divulgada pelo Conselho Nacional da Juventude aponta que 28% dos jovens de 15 a 29 anos pensam em deixar os estudos quando as escolas e universidades reabrirem após fechamento provocado pela pandemia.
"A estatística nem-nem deverá aumentar. A COVID-19 trouxe a céu aberto todas as fragilidades de nosso país, todas as desgraceiras, toda a falta de ação e responsabilidade máxima dos governantes com a população. A COVID-19 elevou a uma potência enorme a falta de políticas para aqueles cidadãos que estão ali querendo fazer a sua parte", criticou Elaine Starosta Foguel.