A Argentina deu calote de sua dívida externa em 2001 e, em menor proporção, em 2014. Nos últimos anos, o país também foi atingido por uma crise monetária e depressão econômica. Depois de não conseguir encontrar um terreno comum com os detentores de títulos privados, que incluem a gigante americana de gestão de investimentos BlackRock, o governo argentino apresentou em abril uma proposta para reestruturar sua dívida. Seguiram-se meses de discussões acaloradas.
No entanto, a saga de reestruturação das dívidas da Argentina está longe de terminar. Agora, o país precisa renegociar o pagamento de US$ 44 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI), previsto para começar em setembro. Mas Buenos Aires enfrenta a pressão de uma recessão, exacerbada pela COVID-19, e seu PIB deve encolher pelo menos 10% em 2020.
Economista defende novos rumos
O governo argentino deveria ter se concentrado primeiro em apresentar um programa econômico, avalia Arturo C. Porzecanski, economista e professor da American University, em Washington.
"O governo insistiu em uma sequência política muito incomum: primeiro você obtém alívio da dívida de seus credores privados (detentores de títulos); em seguida, obtém alívio da dívida do FMI e de outros credores oficiais (bilaterais); e, em seguida, apresenta um programa econômico. O mais sensato, a melhor prática sempre foi proceder na ordem oposta, ou seja, primeiro você monta um programa econômico e, em seguida, faz projeções da sua capacidade de pagar a dívida, que você usa para negociar a dívida", sublinhou Porzecanski.
As negociações sobre a reestruturação da dívida com o FMI podem começar em setembro e, de acordo com as expectativas de Porzecanski, devem se arrastar pelo menos até o final do ano.
"Nesse ínterim, não devemos esperar nenhuma decisão importante de política econômica, a não ser continuar gerando déficits fiscais crescentes financiados pelo Banco Central, com todo o potencial inflacionário que isso implica para o próximo ano e além. Em termos de melhorias tão necessárias no clima de negócios e investimento do país, eles não estão em lugar nenhum", observou o economista da American University em entrevista à Sputnik.
Para garantir uma perspectiva econômica mais saudável, a Argentina precisa interromper o excesso de empréstimos nos mercados internacionais, disse Diego Sanchez-Ancochea, professor de economia política da Universidade de Oxford.
"Para o médio e longo prazo, o importante é evitar novamente o excesso de endividamento nos mercados internacionais. Isso significará dar mais atenção à agenda tributária da Argentina e também a uma gestão mais eficaz dos gastos estaduais", afirmou Sánchez-Ancochea à Sputnik.
Mas o destino da Argentina também dependerá de como a economia global evoluirá e se o preço das exportações primárias se recuperará, observou o professor de Oxford.