A volta das atividades escolares ainda é um assunto incerto e está em diferentes situações no Brasil. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) determinou a abertura de escolas públicas e particulares no dia 7 de outubro desde que as unidades de ensino estejam em cidades da fase amarela do programa paulista de combate ao coronavírus.
Já a Prefeitura do Rio de Janeiro tentou autorizar a volta às aulas por meio de decreto, mas a decisão foi suspensa por decisão do Tribunal de Justiça do Rio.
O Brasil é o segundo país em todo o mundo com mais casos e mortes na atual pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos. São mais de 3,3 milhões de brasileiros infectados pelo novo coronavírus e 108.536 mortes causadas pela enfermidade, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde nesta segunda-feira (17).
"Se o Brasil pudesse esperar e não ter aulas até o final do ano e reavaliar isso no começo do ano que vem, nós já teríamos uma visão melhor do que estaria acontecendo", afirma à Sputnik Brasil o virologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Davis Fernandes Ferreira.
Medidas de distanciamento social e protocolos mais rígidos de limpeza para a retomada das escolas podem "minimizar" os riscos de contágio, mas não eliminam essa possibilidade, diz o professor da UFRJ. Ferreira também destaca que embora as crianças e adolescentes não sejam um grupo de risco da COVID-19, elas podem infectar outras pessoas após ter contato com o vírus.
"Qual é o valor da vida? O que vale mais? A vida ou a produtividade? Proponho que a gente pense uma inversão dessa lógica, da ansiedade de se retornar efetivamente as atividades escolares. A educação não pode ser concebida como um produto na perspectiva da linha de produção industrial", diz o pedagogo e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Lincoln Araújo à Sputnik Brasil. "Nossas crianças não são mercadorias e nem os professores, utensílios, objetos, peças de uma engrenagem."
Araújo defende que as aulas presenciais devem voltar apenas com a vacina e que defender a volta dos alunos às escolas hoje é uma espécie de darwinismo social. "Sobrevivem os que são mais fortes e os mais aptos, biologicamente", avalia o professor da UERJ.
"Por que a escola deve voltar? Quais são as razões? Quem defende o retorno às escolas, nesse momento, são principalmente os empresários das escolas privadas. Obviamente porque observam a educação como uma mercadoria e estão muito preocupados com seus negócios", afirma Araújo.