Segundo o governo chinês, a produção de frango no país asiático registrou um aumento de 12,3% em 2019. Já em 2020, Pequim pretende ampliar a produção em mais 7,2%, atingindo um total de 24 milhões de toneladas anuais.
China é destino de 17% das exportações brasileiras de frango, atendendo 70% da demanda de importação chinesa do produto. As recentes notícias, no entanto, suscitam temores de que o maior importador de carne de frango do Brasil poderia reduzir as suas aquisições.
Sputnik Brasil conversou sobre o tema com advogado Thomas Law, Diretor Presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina), responsável pela Coordenação Nacional das Relações Brasil e China na Ordem dos Advogados do Brasil, e consultor da Frente Parlamentar do BRICS junto ao Congresso Nacional.
"A previsão é de que o consumo de frango na China aumente 9% ao ano. Todo país adéqua a sua produção à demanda do mercado. E a gente sabe que o mercado chinês é gigantesco. O mercado chinês consome muita carne de porco, e agora há um aumento na demanda de frango. Portanto, é natural que o mercado busque atender com a produção interna, ou importação, como acontece em qualquer outro país", explicou Thomas Law.
Para o advogado, o elevado aumento da capacidade produtiva chinesa não deve afetar os produtores brasileiros de carne de modo imediato, que podem até aumentar as suas exportações.
"Não será um abalo imediato, mas precisamos nos preparar. Brasil tem margem para aumentar suas exportações de carne de frango para a China. O setor avícola chinês, apesar dos subsídios e do crescimento rápido, ainda tem limitações de estoque genético", afirmou o especialista.
Segundo o advogado, as importações de carne de frango pela China devem aumentar 32%, segundo as previsões do governo e mesmo com aumento da produção local. Desse modo, segundo Thomas Law, "temos muito espaço para crescer".
COVID-19 e pragmatismo
Ao comentar os recentes transtornos, provocados por supostos casos de contaminação de carne brasileira com COVID-19, o advogado lembrou que não houve nenhuma iniciativa por parte do governo chinês para restringir o mercado. Para ele, apesar de possível, um eventual embargo à produção brasileira por parte de Pequim parece "pouco provável".
Para o entrevistado, as relações comerciais geralmente são mais pragmáticas, do que na política. Por esse motivo, o comércio entre os dois países deve continuar, mesmo em caso de eventuais tensões, geradas pela política externa do atual governo brasileiro.
"A relação comercial é pragmática. Também temos pessoas preparadas para conduzir as negociações de um ponto de vista prático como, por exemplo, a ministra da Agricultura [Pecuária e Abastecimento], Tereza Cristina, que tem um bom relacionamento com a China", concluiu.