Editorial publicado nesta sexta-feira (21) pelo jornal, com o título de Jair Rousseff, compara a petista ao atual chefe de Estado na questão dos gastos públicos.
Segundo opinião da Folha de S.Paulo, Bolsonaro caminha para a mesma direção de Dilma ao aumentar os gastos do Estado com objetivo de garantir a reeleição, o que causaria danos ao país. De acordo com o editorial, essa visão teria custado o segundo mandato da ex-presidente.
O atual governo vive dilema sobre a manutenção da ajuda aos trabalhadores informais e desempregados durante a crise do coronavírus, que, segundo pesquisas, garantiu um fortalecimento da aprovação de Bolsonaro.
Enquanto a ala mais liberal defende a manutenção do Teto de Gastos, outra parcela do governo quer manter parte do auxílio, ampliar o Bolsa Família (sob o novo programa Renda Brasil) e investir em obras de infraestrutura para ajudar o país a sair da recessão.
Teto de Gastos 'criou camisa de força'
Por meio de nota à imprensa, Dilma disse que a Emenda Constitucional do Teto de Gastos, aprovada no governo Temer após seu impeachment, "criou uma camisa de força para a economia, barrando o investimento em infraestrutura e os gastos sociais.
"Logo ao tomar o poder ilegalmente, os golpistas aproveitaram-se de sua maioria no Congresso e do apoio da mídia e do mercado para aprovar a emenda do Teto de Gastos, um dos maiores atentados já cometidos contra o povo brasileiro e a democracia em nossa história, pois, por 20 anos, tirou o povo do Orçamento e também do processo de decisão sobre os gastos públicos. Criou uma 'camisa de força' para a economia, barrando o investimento em infraestrutura e os gastos sociais, e 'constitucionalizando' o austericídio", afirmou a ex-presidente.
'Sórdida mentira'
Dilma também refutou as acusações do editorial de que teria praticado irresponsabilidade fiscal. As chamadas pedaladas fiscais foram o argumento usado para o pedido de impeachment da petista.
"Os dados mostram que a 'irresponsabilidade fiscal' que me foi atribuída é uma sórdida mentira, falso argumento para sustentar o golpe em curso. Entre 2011 e 2014, as despesas primárias cresceram 3,7% ao ano, menos do que no segundo mandato de FHC (4,1% ao ano), por exemplo. Em 2015, já sob efeito das pautas bombas, houve retração de 2,5% nessas despesas. As dívidas líquida e bruta do setor público chegaram, em meu mandato, a seus menores patamares desde 2000. Mesmo com a elevação, em 2015, para 35,6% e 71,7%, devido à crise que precedeu o golpe, elas ainda eram muito menores que no final do governo de Temer (53,6% e 87%) ou no primeiro ano de Bolsonaro (55,7% e 88,7%)", argumentou.
Além disso, Dilma disse que comparar uma "presidenta democrática" a um "governante autoritário, de índole neofascista" é uma "simetria que não existe".
"O editorial de hoje da Folha – sob o título 'Jair Rousseff' – é um destes atos deliberados de má-fé. É pior do que um erro. É, mais uma vez, a distorção iníqua que confirma o facciosismo do jornal. A junção grosseira e falsificada é feita para forçar uma simetria que não existe e, por isto, ninguém tem direito de fazer, entre uma presidenta democrática e desenvolvimentista e um governante autoritário, de índole neofascista, sustentado pelos neoliberiais – no caso em questão, a Folha", criticou.