Neste ano, o Brasil levou uma delegação de alto nível para participar do Fórum Internacional Técnico-Militar EXÉRCITO 2020. Com estande completo, o Ministério da Defesa, em parceria com a APEX Brasil, não quer somente comprar, mas também vender produtos de defesa para a Rússia e região.
A delegação brasileira levou ainda uma série de produtos e soluções focadas na pandemia de COVID-19, desenvolvidos a toque de caixa no Brasil nesses últimos seis meses.
"A defesa é um setor muito mais amplo do que só armamentos. Envolve saúde da nossa população [...] e segurança alimentar", afirmou o general Duizit Brito, diretor do Departamento de Promoção Comercial da Defesa (DEPCOM), à Sputnik Brasil.
"Os exércitos têm que ter saúde de campanha, biossegurança e proteção", acrescentou o general.
"Qualquer exército pode chegar a uma região e ficar exposto a um vírus local, então deve estar preparado em biossegurança e bioproteção", explicou Brito.
Com base nessa experiência, a indústria de defesa brasileira se mobilizou para desenvolver soluções para a pandemia de COVID-19.
"A indústria de defesa [...] pode mudar sua linha de produção pra atender de forma dual às necessidades da sociedade", explicou Brito. "Por isso ela deve que ser muito bem preservada."
A parceria
No início da pandemia, "fronteiras no mundo inteiro se fecharam para exportações". Por isso, os setores público e privado se uniram para produzir equipamentos médicos essenciais em território nacional e desenvolver soluções para minimizar os efeitos da pandemia.
"Houve uma decisão presidencial de envolver vários ministérios nesse esforço [...] e coordenação entre os Ministérios da Ciência e Tecnologia e Inovação, Defesa, Saúde e até da Economia, para facilitar importações e exportações e capitanear financiamento", contou.
A parceria se formou como uma "tríplice hélice, formada pelo governo, inciativa privada e a academia", explicou Brito. "Eu ainda coloco mais uma pá nesse sistema: as startups."
"Isso tudo em uma mobilização voluntária [...], um esforço fantástico do povo brasileiro, das empresas, das organizações, que é de se esperar em uma crise de tal gravidade", disse.
"Foram umas 16 semanas ininterruptas de trabalho, no qual todos se empenharam", relata o general.
Os resultados
Uma das primeiras tarefas da indústria de defesa em meio à pandemia foi resolver a escassez de ventiladores médicos disponíveis para a população brasileira.
"Nós tínhamos quatro fábricas de ventiladores com uma produção baixa. Com a participação da indústria aeronáutica e de motores, todas conseguiram escalar a produção", contou.
"Hoje nós temos 16 fábricas produzindo ventiladores para a fase aguda da COVID-19 [...] e uma rede de produção de ventiladores coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI)", comemorou Brito.
Para ele, a COVID-19 "não é simples, e não se deve comemorar onde tem mortes, mas temos que reconhecer que estamos achando o final do túnel para sair dessa crise pandêmica", notou.
Inovação
O esforço rendeu soluções inovadoras por parte de empresas brasileiras, cujos produtos foram apresentados durante o Fórum Internacional Técnico-Militar EXÉRCITO 2020.
"Nasceu uma solução muito inovadora [...] de uma marca de Minas Gerais [Inspirar Health Tech], que é um ventilador que trabalha com Wi-Fi", contou. "O médico intensivista pode monitorar a manutenção do aparelho, sua vida útil e o estado de saúde do paciente sem precisar fazer ronda pela UTI."
O ventilador mineiro "ainda tem uma versão que permite a instalação de uma pequena central de ar comprimido, o que é muito útil para hospitais de campanha", disse Brito.
"Foi um trabalho que mostrou que quando você tem um ecossistema de inovação e de parceria você consegue superar as dificuldades que uma sociedade pode enfrentar", acredita o general.
Testes para COVID-19 por saliva
Com a pandemia completando seis meses no Brasil, os testes para COVID-19 por saliva desenvolvidos nacionalmente se tornaram prioridade.
"A Universidade de Uberlândia e a empresa Biogenetics já trabalhavam juntas pelo teste da saliva que, em dois minutos, acusa se a pessoa está com COVID-19, zika, chicungunha, câncer de próstata e de útero e várias outras doenças."
Com a pandemia, as entidades priorizaram o processo de certificação dos testes para a COVID-19, que "já estão nas fases finais".
"Pesquisa e equipamentos militares foram usados para testar" as inovações brasileiras para o combate à COVID-19, o que "reforça algo que toda a sociedade tem que estar alerta às [questões relacionadas à] defesa e à proteção biológica", assegurou Brito.
Defesa brasileira em Moscou
General experiente do Exército e santista fanático, Brito acredita que Brasil e Rússia têm o potencial de selar parcerias de longo prazo na área de Defesa.
"A Rússia, como um país amigo, que também está muito bem nessa batalha [...] chegando na fase final de desenvolvimento de vacina, também pode se beneficiar das inovações" brasileiras, acredita Brito.
"A Rússia é um país impressionante, com um povo muito alegre", relatou o general, que visita o país pela primeira vez.
"Estamos com seis pessoas nos ajudando no estande do Brasil, todas russas, jovens [...] falando muito bem o português. Isso foi uma agradável surpresa", contou.
"Estamos aqui prontos [...] para que a gente vire o ano com esse inimigo chamado vírus derrotado", concluiu.
A exposição EXÉRCITO 2020, realizada entre os dias 23 a 29 de agosto nos subúrbios de Moscou, apresentará 730 armamentos e equipamentos militares russos, além de contar com estandes de 28 mil empresas do ramo e representantes de mais de 70 países.