Uma vacina italiana contra a COVID-19, que está sendo desenvolvida pela empresa de biotecnologia ReiThera, será facilmente adaptável a várias estirpes do vírus, disse Giuseppe Ippolito, o diretor científico do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani, Roma, à Sputnik.
"A plataforma vacinal que é utilizada pela candidata italiana à vacina, inventada pela ReiThera e baseada em um vetor viral não replicativo, não deve ser dependente de cepas. Em qualquer caso, porém, ela é facilmente adaptável a diferentes vírus ou cepas do mesmo vírus", disse Ippolito.
Ao mesmo tempo, Ippolito observou que, até o momento, as evidências científicas demonstraram que as mutações sofridas pelo vírus SARS-CoV-2 foram insignificantes.
A vacina entrou na segunda-feira (24) na primeira fase de testes em humanos no Instituto Nacional de Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani.
Segundo o cientista, os primeiros resultados da primeira fase só estarão disponíveis em alguns meses, enquanto os resultados finais serão apresentados à comunidade científica internacional somente após as 24 semanas previstas pelo protocolo de pesquisa.
Ippolito também disse que, na Itália, uma vacina só pode ser aprovada para uso popular após a conclusão bem sucedida das fases 1, 2 e 3 dos ensaios, com um aumento gradual do número de voluntários. Durante a fase 3, a vacina também deve ser testada nos países onde há uma maior circulação do vírus e, portanto, uma maior probabilidade para os vacinados de contrair a infecção.
"A primavera de 2021 já é uma previsão otimista. Pensar agora na possibilidade de completar a experimentação mais cedo não seria sério", disse o cientista.
A segurança da vacina para vários grupos da população e os possíveis efeitos adversos só se tornarão claros quando todas as fases forem concluídas, disse Ippolito, acrescentando que a vacina deverá receber depois disso a aprovação da agência reguladora nacional, a Agência Italiana de Medicamentos.
"Do lado positivo, agora existem muitos testes de vacinas em todo o mundo, os quais utilizam tecnologias diferentes: esperamos, portanto, que mais cedo ou mais tarde várias vacinas estejam disponíveis, cada uma das quais também pode ter perfis de eficácia mais adequados a grupos demográficos específicos", comentou Ippolito.
Vacinação das populações
Além de trabalhar com sua própria vacina, a Itália, juntamente com a Alemanha, França e Países Baixos, assinou um contrato com a AstraZeneca para fornecer até 400 milhões de doses da vacina, que a empresa está desenvolvendo com a Universidade de Oxford britânica, para a Europa.
A fase de experimentação desta vacina está mais avançada do que a da italiana e se espera que termine no outono.
"A vacina não pode e não deve se tornar uma ferramenta política ou, pior, o detonador de uma nova guerra fria", advertiu Giuseppe Ippolito. "A Itália considera a vacina como um bem comum: em uma pandemia como esta ninguém se salva sozinho, e as fronteiras entre nações fazem pouco sentido em comparação a um patógeno que não precisa de vistos e documentos para se mover de uma nação para outra."
Embora a Itália e a Europa estejam caminhando na direção da saúde global, tentando conciliar a necessidade de proteção de seus cidadãos com a necessidade de que a vacina esteja disponível a preços aceitáveis, a disponibilidade de uma vacina produzida na Itália permite que o país olhe para o futuro com confiança, acrescentou o cientista.
De acordo com Francesco Vaia, diretor médico do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani, a vacina deverá estar pronta para uso na primavera de 2021.