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Pressões internas e eleições motivaram ataque de Trump contra aço brasileiro, dizem especialistas

© Foto / Pixabay / jarmolukProdução da folha de aço (foto referencial)
Produção da folha de aço (foto referencial) - Sputnik Brasil
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Segundo especialistas, pressões internas e considerações políticas motivaram as decisões de Donald Trump sobre redução das cotas do aço brasileiro.

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou neste sábado (29) a redução da cota de importação de aço do Brasil. Ele justificou a medida citando a queda do mercado siderúrgico norte-americano em função da pandemia do coronavírus.

O limite atual foi definido por um acordo com o Brasil em 2018, de modo a evitar que o país pagasse tarifa de 25% imposta a outras nações.

Segundo o Instituto Aço-Brasil, a restrição deve representar uma queda nas vendas no quarto trimestre, passando de 350 mil toneladas para 60 mil toneladas. Segundo o sistema de cotas atuais, o Brasil exportaria 3,5 milhões de toneladas por ano.

O presidente do Instituto Aço Brasil, economista Marco Polo de Mello Lopes, destacou que a decisão de Donald Trump repercute o resultado de um longo processo de negociação entre Brasil e Estados Unidos, que dura desde o início de junho.

"A redução do mercado americano na verdade ocorreu, como nos demais países, por conta da pandemia. No Brasil também tivemos a redução do nosso mercado. A siderurgia brasileira opera com 40% de ociosidade e no pico da crise, em abril, chegamos a operar com 42% da capacidade instalada. Portanto é legítima a preocupação por parte do governo americano", explicou Marco Polo de Mello à Sputnik Brasil.

Para ele, a decisão de Trump é "resultado da pressão de algumas poucas usinas siderúrgicas americanas" que, com a queda do mercado interno, passaram a ficar ociosas e passaram a ter capacidade de ofertar placas semiacabadas de aço, tradicionalmente importadas do Brasil.

"Elas, obviamente, tentaram alijar o fornecedor tradicional dessas placas, que é o Brasil. Faz parte do jogo. É o governo americano atendendo as demandas e pressões das empresas siderúrgicas americanas", disse o economista.

Marco Polo de Mello explicou que o Brasil exporta para os Estados Unidos uma cota de 3,5 milhões de toneladas de placas semiacabadas de aço por ano. Essa cota vem sendo cumprida desde 2018, como o valor total de produtos de aço brasileiro aos EUA somando aproximadamente U$ 2,6 bilhões.

"É importante ressaltar que dentro desse regramento o Brasil só pode exportar 30% dessa cota global no primeiro trimestre, 30% dessa cota no segundo trimestre, 30% no terceiro trimestre e 10% no último trimestre, perfazendo 100% da cota. O resultado que temos no momento é que o Brasil já exportou 90% de sua cota, vai exportar mais 60 mil toneladas referentes ao que seria parte de sua cota do quarto trimestre. E ficam pendentes 290 mil toneladas, que vamos discutir com o governo americano, o tratamento que vai se dar, em dezembro deste ano", explicou o presidente do Instituto Aço-Brasil.

Decisão política

Para o empresário José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), a decisão do governo norte-americano seria exclusivamente de cunho político e visa as eleições.

"Não tem amparo legal, mas nesse momento Trump adota a medida que mais interessa a ele", disse José Augusto de Castro à Sputnik Brasil.

"É uma medida típica protecionista, não necessariamente protegendo a indústria americana, como ele alega. Porque no fundo ele vai suspender as importações, a cota de importações diminui, e os importadores americanos vão ter menos matéria prima para produzir seus produtos", acrescentou o empresário.

O presidente da AEB, lamentou a medida anunciada pelo candidato do Partido Republicano, ainda mais que as vantagens políticas decorrentes da decisão seriam poucas e incertas.

"No fundo ele vai reduzir os índices de produção local, fazendo com que não haja geração de emprego. O Brasil, por sua vez, vai deixar de exportar o produto e vai gerar desemprego", afirmou José Augusto de Castro.

O empresário acredita que a tática de Donald Trump demonstra sua falta de confiança na própria candidatura e que o político está buscando alternativas políticas para se afirmar.

"Vejo essa decisão mais como um desespero político, do que uma decisão economicamente forte", concluiu.
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