A revista Newsweek citou na quinta-feira (3) um alto funcionário anônimo da inteligência norte-americana, que teria descrito a estratégia atual dos EUA na Síria como uma "confusão de m****" à luz das próximas eleições presidenciais.
Com o relógio se aproximando das eleições de 3 de novembro, "ambos os candidatos prometem acabar com as 'guerras sem fim' travadas por seus antecessores", relata a mídia, se referindo às eleições presidenciais que serão disputadas entre o democrata Joe Biden e o atual líder norte-americano Donald Trump.
O funcionário da inteligência norte-americana afirmou que os EUA "não têm uma estratégia [sobre a Síria]", ao mesmo tempo que o Pentágono continua mantendo uma missão militar no país árabe para "garantir uma derrota duradoura" do Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia e em muitos outros países), de acordo com um comunicado de imprensa de sábado (5) do Departamento de Defesa do país.
Em outubro de 2019, Donald Trump anunciou que os EUA iriam retirar suas forças da Síria, mas acabou por recuar na decisão, afirmando que permaneceria um "pequeno" contingente norte-americano para trás para "manter o petróleo" no nordeste do país do Oriente Médio.
A Newsweek também citou a porta-voz do Pentágono, Jessica McNulty, dizendo que a coalizão liderada pelos EUA não coordena nem compartilha inteligência com a Rússia na Síria.
"De tempos em tempos somos incidentalmente informados sobre ataques russos planejados contra o Estado Islâmico [Daesh] a oeste do rio Eufrates, como parte de nossas comunicações rotineiras de desconflito", salientou.
Anteriormente, o Conselho de Segurança Nacional dos EUA acusou os soldados russos de orquestrarem uma colisão com um veículo militar norte-americano na Síria, apesar de numerosos vídeos mostrarem as tropas russas fazendo várias tentativas de se separarem de seus homólogos dos EUA de forma segura.
No final de agosto, o Ministério da Defesa da Rússia declarou que os militares russos haviam feito todos os possíveis para evitar uma colisão com as forças norte-americanas destacadas na Síria, em conformidade com acordos destinados a evitar confrontos entre as forças dos dois países na República Árabe.
Petróleo na Síria
No final de outubro de 2019, militares russos divulgaram um relatório detalhado sobre atividades de contrabando de petróleo dos EUA na Síria, usando dados de inteligência por satélite.
Segundo o jornal Politico, o documento foi aprovado inicialmente meses depois que Trump anunciou pela primeira vez que Washington iria deixar o país árabe. O Pentágono, a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) e empresas militares privadas haviam concordado em se envolver em operações de contrabando de petróleo com os curdos e empresas petrolíferas controladas pelos EUA, resultando em lucros de mais de US$ 30 milhões (R$ 159 milhões) por mês.
Em agosto, o embaixador da Síria na ONU, Bashar Jaafari, acusou Donald Trump de roubar petróleo da República Árabe, se referindo a um acordo assinado no início do mês entre as Forças Democráticas da Síria (FDS, na sigla em inglês) lideradas por curdos e uma empresa norte-americana.
O acordo, que foi alegadamente firmado pela Delta Crescent Energy LLC, prevê a modernização dos poços de petróleo em áreas controladas pelas FDS, apoiadas pelos EUA, no nordeste da Síria.
Jaafari disse ao Conselho de Segurança da ONU que "as forças de ocupação dos EUA, em plena vista das Nações Unidas e da comunidade internacional, deram um novo passo para saquear os recursos naturais da Síria, incluindo petróleo e gás sírio" com o estabelecimento dessa empresa.
A Rússia permanece "o único país que pode justificar legalmente manter militares na Síria após ter sido convidada pelo legítimo governo sírio", como lembrou em março o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, com as forças dos EUA estando destacadas no país sem um mandato da ONU nem autorização de Damasco.