O EQx recorre a dados internacionais, governamentais e de entidades como Banco Mundial e FMI, e analisa dezenas de variáveis para obter quatro indicadores principais: poder econômico, valor econômico, poder político e valor político. Esses indicadores permitem medir a qualidade das elites de um determinado país e ajudam a prever crescimento econômico e desenvolvimento humano de uma sociedade.
No caso do Brasil, "o que nós vemos é que as elites, quer políticas, quer econômicas, concentram em si ainda um elevado poder e acabam por utilizar esse poder para promover algumas atividades mais extrativas do valor da sociedade", explica à Sputnik Brasil a professora Cláudia Ribeiro, da Faculdade de Economia (FEP) da Universidade do Porto, em Portugal, instituição que, junto com a Universidade de Saint Gallen, na Suíça, desenvolveu o índice.
Entre as variáveis nas quais o Brasil apresenta os piores desempenhos estão:
- globalização da economia (31º posição)
- resposta do governo à mudanças (30º)
- liberdade de trocas comerciais (30º posição)
- empreendedorismo (30º posição)
- desemprego geral (29º)
- desemprego entre jovens (27º)
"O Brasil avançou desde a restauração de sua democracia, em 1985, especialmente recuperando a economia e mantendo o controle da inflação. No entanto, no momento, a fé no governo precisa ser restaurada, com o país pontuando abaixo da média em todas as áreas do índice. A fim de garantir um forte caminho de crescimento a longo prazo e alcançar seus pares BRIC, as elites devem fazer a transição para modelos de negócios de criação de valor, ao mesmo tempo em que fornecem condições propícias aos negócios e ao empreendedorismo na economia", lê-se no estudo.
No grupo BRICS, somente a China teve posição de destaque, 12ª no geral, o que surpreendeu os pesquisadores. "Torna-se cada vez mais uma superpotência e rapidamente, a manter essa performance, caminhará para ser a maior economia", disse o professor Oscar Afonso, da FEP, durante a apresentação dos dados à imprensa.
O professor explica que embora as elites chinesas tenham "muita concentração de poder político, a criação de valor é boa".
Entre os demais membros do grupo, Rússia (23º) e Índia (25º) estão acima do Brasil e África do Sul vem atrás, em 30º lugar.
O Brasil também ficou atrás de países como Israel (16º), Arábia Saudita (22º), Botswana (24º) e Paquistão (26º).
Outros dois representantes da América Latina, o México está em 21º lugar e a Argentina muito abaixo, em 31º. O Egito ocupa o último lugar do ranking.
Melhores elites
Singapura é a número 1 do EQx. "Embora a nota seja penalizada pela alta concentração de poder, as elites da cidade-estado são, de longe, as maiores criadoras de valor do mundo", lê-se no estudo.
Em seguida, o top 10 do ranking tem, na ordem, Suíça, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Japão, Coréia do Sul e Suécia.
A primeira metade da classificação conta ainda com Noruega (11º), Polônia (13º), Portugal (14º) e França (15º).
Como melhorar?
Os pesquisadores ressaltam que o balanço entre os indicadores é o que define a posição na tabela e que mesmo os países com as melhores elites do mundo possuem pontos a melhorar.
Os Estados Unidos, por exemplo, aparecem em 29º em porcentagem de gastos do PIB com saúde, enquanto o Brasil está em 10º. "Bastante bom", analisa a professora Cláudia Ribeiro.
"Investimentos estrangeiros em porcentagem do PIB também é bastante elevado, está em 5ª posição. Essa capacidade pode ser potenciada para ajudar a puxar o resto da economia", diz a professora.
"É perceber quais são as áreas onde as elites estão a ter desempenhos piores para tentar melhorar. Ao investirmos, vamos estar a potenciar desenvolvimento e crescimento econômico do país. Esse índice tem essa valia. Ao longo do tempo, sempre ouvimos falar das elites e da qualidade das elites, agora temos dados objetivos e concretos em que fundamentar as nossas opiniões e análises", completa Ribeiro.
A partir de 2021 o Índice da Qualidade das Elites vai ser ampliado, com análise de dados de cem países, e será atualizado anualmente.