Há meses que o Líbano tem sido palco de protestos antigovernamentais de populares insatisfeitos com a classe política e a crise econômica no país.
Apesar deste cenário, Israel estaria buscando um acordo de demarcação de fronteiras marítimas e terrestres com o país árabe via intermediação dos EUA.
Por sua vez, os EUA pressionam o país a ir pelo caminho de concessões e fechar o acordo, enquanto Tel Aviv e Beirute disputam a área submarina Bloco 9, onde acredita-se haver uma grande reserva de gás natural no mar Mediterrâneo.
Durante uma videoconferência do Instituto Brookings, o assessor do secretário de Estado dos EUA para Assuntos do Oriente Médio, David Schenker, disse:
"Eu espero que cheguem lá [a um acordo] nas próximas semanas, mas isso é o que veremos", publicou o jornal The Times of Israel.
Contudo, o americano se recusou a dar detalhes sobre os impedimentos à assinatura do acordo.
Cenário no Líbano
Em entrevista à Sputnik Árabe, os cientistas políticos libaneses Osama Wahby e Riyad Isa comentaram o assunto.
"Quero ressaltar que os políticos libaneses são pressionados absolutamente por todos e por qualquer razão: por questões da formação de governo, recuperação de Beirute, recebimento de dinheiro do FMI e, é claro, demarcação das fronteiras marítimas com Israel", pontuou Wahby.
Ainda segundo o cientista político, os EUA têm empregado pressão no Líbano principalmente no que concerne a seus assuntos externos.
"Enquanto, por um lado, a França pressiona na solução das questões relacionadas à política interna, nos assuntos externos são os EUA. Eles estão interessados na demarcação de fronteiras e acham isso interessante para Israel", acrescentou.
Com o intuito de atrair o Líbano para um acordo, Wahby afirma que Washington abre a possibilidade de ajuda financeira ao país árabe em crise.
"Sem dúvidas, Washington oferecerá ajuda financeira ao governo em troca de um acordo vantajoso: todos entendem que o Líbano não tem dinheiro para reconstruir Beirute depois da explosão. Existe o perigo de que Beirute de fato não receba nenhuma ajuda internacional enquanto não fizer concessões aos interesses americanos e concomitantemente aos israelenses", disse.
A pressão por parte dos EUA é exercida sobre diferentes movimentos e partidos, inclusive através de sanções.
Wahby relembra que pelo menos dois ministros do atual governo sofreram sanções americanas.
"Isso é um dos indicativos-chave do quanto os EUA esperam do Líbano determinadas ações, necessárias para eles", concluiu.
Em caso de acordo, qual seria a reação?
Expressando sua opinião sobre o assunto, Riyad Isa acredita que tais negociações estão em curso, mas que a sociedade libanesa será contra um acordo com Israel, o que impediria sua ratificação.
"É incrível como os EUA anunciam alegadas negociações entre Israel e o Líbano se Beirute está negociando sobre a demarcação de fronteiras exclusivamente com Washington. Tais detalhes vão trazer sérias consequências ao Líbano", afirmou.
Desta forma, por não confiar em seu governo e sua política, a sociedade libanesa não aceitaria um acordo tendo em vista a situação atual.
"Se eles de fato assinarem algum acordo com Israel, as pessoas vão sair às ruas, e ninguém o reconhecerá como válido", acrescentou.
Isa acredita que os EUA estão dispostos a usar qualquer fraqueza do Líbano para realizar seus objetivos e interesses na região.
Contudo, Washington não dá atenção aos interesses do Líbano, mas caso o país estivesse em melhor posição para negociar, possivelmente Beirute apresentaria maior resistência.
Além do litígio marítimo, o Líbano também possui discórdias territoriais com Israel em 13 pontos de sua fronteira terrestre, incluindo no porto de Naqoura e Adaisseh, onde os israelenses construíram um muro divisório.