Além do impacto direto na saúde, a pandemia da COVID-19 também preocupou, e ainda preocupa, por conta de seus desdobramentos econômicos. A desaceleração provocada pelo surto do novo coronavírus derrubou economias em diversas partes do mundo, incluindo a do Brasil. Por aqui, tivemos uma queda de 9,7% do PIB no segundo trimestre deste ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Impacto da COVID-19 no PIB do G20 foi 4 vezes mais severo do que a crise de 2009https://t.co/fIt5n7cnwG
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) September 14, 2020
Nesta terça-feira (15), a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, do Ministério da Economia, divulgou uma lista mostrando os setores que mais sofreram com a pandemia, com destaque para atividades artísticas, transportes, serviços de alojamento, serviços de alimentação e fabricação de veículos. A ideia, segundo a portaria, é que a mesma sirva para orientar as agências financeiras oficiais de fomento.
Embora a maioria dos setores tenha sido afetada negativamente, houve também quem tenha conseguido lucrar com a crise. Empresas de delivery, supermercados, e-commerce, entretenimento, aplicativos de vídeo, materiais de construção e agropecuária estão entre aqueles que, com uma pequena oscilação aqui ou ali, conseguiram, no geral, crescer durante a pandemia.
#COVID19| Portaria do @MinEconomia lista os setores da economia mais impactados pela #pandemia após a decretação da calamidade pública. A lista é destinada a orientar as agências financeiras oficiais de fomento https://t.co/eekSmvynFu
— TV BrasilGov (@tvbrasilgov) September 15, 2020
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"A gente percebe que quem, realmente, não sofreu na pandemia e ainda conseguiu ter algum tipo de lucro está mais ligado aos bens mais essenciais, como alimentação, questão de higiene, de farmácia. Esses, realmente, são produtos que a população não tem como deixar de consumir", avalia Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), em entrevista à Sputnik Brasil, destacando que o auxílio emergencial concedido pelo governo federal ao longo dos últimos meses contribuiu muito para que as pessoas que tiveram perda de renda nesse período conseguissem manter esse tipo de consumo básico.
Além dos bens essenciais, o economista explica que há também outro grupo, formado por empresas que chegaram a sofrer um pouco, no primeiro momento, "mas conseguiram se recuperar de maneira muito rápida" e têm conseguido se sustentar porque estavam mais preparadas para se adaptar ao novo cenário.
"O que essas empresas têm em comum é, realmente: ou são produtos de bens essenciais ou são empresas que já estavam um pouco mais preparadas, já tinham essa dinâmica de se adaptar mais fácil a essas atividades de delivery, ou seja, a essa questão do distanciamento social. Conseguiram se adaptar e não sofrer muito nesse período."
Tobler acredita que o surto do novo coronavírus pode ter acelerado um processo que já vinha acontecendo gradualmente, de aumento do comércio on-line e dos serviços de entregas, envolvendo empresas de diferentes tamanhos.
"Todas elas têm tentado atacar um pouco mais esse meio digital, esse meio sem necessidade de o consumidor se deslocar até o local para poder fazer a compra. E, assim, até facilitar esse processo de compra, de entrega e tudo mais. Então, acho que esse novo normal, como a gente tem falado, deu um passo maior do que vinha acontecendo."
Quanto às perspectivas para o pós-COVID-19, o especialista destaca que a recuperação prevista para os próximos trimestres não se apresenta de maneira homogênea para todos os setores, com os serviços demonstrando uma "dificuldade muito grande de reagir", sobretudo porque boa parte deles está ligada à interação social. A, saída, segundo ele, é tentar reduzir os danos ao máximo durante o período para facilitar o processo de retomada depois da pandemia.
"O que pode ser feito é conseguir se adaptar, tentar, enfim, utilizar os benefícios que o governo tem oferecido para tentar passar por esses momentos complicados de uma maneira mais branda ou menos negativa e, aí, conseguir, sim, acelerar esses processos de automatização, de redução de custos, para poder sobreviver, porque realmente é um período muito negativo. E, aí, sim, poder continuar operando normalmente, quando tiver uma vacina ou algo nesse sentido."