Nesta semana, vários países europeus voltaram a pressionar o Brasil para adotar um posicionamento mais efetivo em defesa do meio ambiente, alertando para as dificuldades de se negociar com o Brasil por conta do "crescente desflorestamento" por aqui.
Preocupados com as crescentes notícias de desmatamento e queimadas pelo país, embaixadores de oito Estados da Europa enviaram uma carta ao vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, cobrando ações reais e imediatas em prol da preservação dos biomas nacionais e destacando que as empresas europeias buscam responder a "um interesse legítimo dos europeus por alimentos e outros produtos feitos de forma justa, ambientalmente adequada e sustentável".
O aviso, assinado por Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido e Bélgica, é o último de uma série de alertas feitos por parceiros do Brasil desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro, acusado, dentro e fora do país, de não dar a devida atenção às questões ambientais. Há meses, analistas vêm alertando que essa situação pode acabar custando caro também para a economia brasileira.
Em carta a Mourão, 8 países europeus dizem que desflorestamento no Brasil torna investimento difícil https://t.co/drCj4j6F5Q pic.twitter.com/4IkzG93FzI
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) September 16, 2020
Para o professor de relações internacionais Kai Enno Lehmann, da Universidade de São Paulo (USP), a nova pressão adquire uma dupla função para os governos europeus. Se, por um lado, se torna atrativo e lucrativo mostrar para o público doméstico que suas autoridades estão demonstrando preocupação com a questão ambiental e tentando unir esforços em prol dessa causa, por outro, pode ser também uma tentativa legítima de cobrar uma mudança prática do governo brasileiro.
"Esses países fazem uma ligação muito direta entre investimentos econômicos e políticas ambientais em um momento de profunda crise econômica para o mundo e para o Brasil especificamente. Nesse sentido, a pressão é específica, é uma coisa planejada, é uma política planejada para que o Brasil mude a sua política ambiental", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil.
De acordo com o especialista, a percepção que se tem hoje, em grande parte da Europa, é a de que "não existe uma política ambiental" na administração Bolsonaro.
"A percepção que existe é que o governo Bolsonaro não somente está destruindo a floresta amazônica, mas que isso é uma política proposital do governo."
Lehmann acredita que, por se tratar de um momento de crise, não há dúvidas de que cobranças como essa aumentam significativamente a pressão sobre as autoridades brasileiras, principalmente porque há um consenso cada vez mais importante entre as empresas europeias de que "elas não podem ser vistas como parceiras nessa política de destruição ambiental", por uma questão de imagem diante dos seus clientes.
"Eu imagino que, ao longo do tempo, se essa postura europeia não mudar, o setor econômico, o setor industrial vai cobrar uma postura diferente do governo brasileiro", opina o acadêmico, sublinhando que já há movimentos de boicote a produtos brasileiros no exterior por conta das polêmicas ambientais e que a União Europeia é um mercado de grande importância para o Brasil. "Agora, se isso vai ter efeito ou não, vamos ver."
Países que pressionam Brasil por desmatamento são responsáveis por 10% do agronegócio brasileirohttps://t.co/7oDvAViO5I pic.twitter.com/5DZgaKvV2O
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) September 17, 2020
Recentemente, chamou a atenção da opinião pública uma iniciativa de aproximação entre ambientalistas e grandes produtores do agronegócio a fim de apresentar ao governo brasileiro propostas para melhorar a gestão ambiental no país, a fim de minimizar os riscos ambientais em si e também as possíveis perdas econômicas decorrentes desse cenário. Segundo o professor, se essa parceria realmente se confirmar no longo prazo e se houver coerência nessa aliança, isso representará um grande avanço para o Brasil.
"A postura do governo tem sido muito de que você pode ter ou proteção ambiental ou crescimento econômico. Se tiver um conjunto de empresários e ambientalistas mostrando que essas duas coisas não são exclusivas, e se isso puder ser mostrado em ações concretas, de uma economia ambientalmente sustentável, aí faria, eu acho, muita diferença."