Um novo estudo realizado por pesquisadores da Escola de Ciências Marinhas e Atmosféricas da Universidade de Miami, EUA, e do Observatório da Qualidade do Ar na Guiana Francesa (ATMO Guyane, na sigla em francês), na Guiana Francesa, quantificou a porção de poeira do deserto Saara, no norte da África, é transportada para a Amazônia. Os resultados foram publicados na revista científica Global Biochemical Cycles.
A equipe analisou 15 anos de medições diárias de poeira africana transportada em ventos e coletada em uma estação de pesquisa costeira em Cayenne, Guiana Francesa. Os resultados mostraram que quantidades significativas de poeira atingem o coração da Bacia Amazônica e são depositadas ali.
"Nossa taxa de deposição anual, oito a dez teragramas [10¹² gramas] de poeira, é substancialmente inferior às estimativas anteriores", dizem os autores no artigo.
Essa análise ajuda a entender melhor como a poeira do Saara pode afetar a fertilidade do solo na Amazônia. O intenso clima tropical e a queima de biomassa na região contribuíram para o solo pobre em nutrientes na Bacia Amazônica.
"A poeira africana fornece uma fonte importante de nutrientes para aumentar a fertilidade do solo amazônico", explica ao portal Phys.org Joseph Prospero, professor emérito da Universidade de Miami e autor principal do estudo.
Trabalho pioneiro
Todos os anos, poeira rica em minerais do Saara é elevada à atmosfera pelos ventos e carregada em uma jornada de oito milhões de quilômetros pelo oceano Atlântico até o continente americano. A poeira africana contém fósforo e outros nutrientes vegetais importantes que ajudam a compensar as perdas de solo e aumentar a fertilidade da terra amazônica.
Este estudo, o primeiro a quantificar o transporte de poeira africana para a América do Sul, mostrou que quantidades significativas de poeira são depositadas na Amazônia. A análise também descobriu que estudos anteriores, que foram baseados em medições limitadas de poeira, podem ter superestimado o impacto.
A equipe de cientistas descobriu também que a porção de poeira transportada para a América do Sul está inversamente relacionada às chuvas no norte da África e concluíram que as mudanças climáticas afetarão o transporte de poeira para a Amazônia.
"Mudanças no transporte de poeira podem afetar o crescimento das plantas na Amazônia e a quantidade de CO2 retirada da atmosfera. Isso, por sua vez, impactaria ainda mais o clima […] Nossos resultados destacam a necessidade de monitoramento de longo prazo para identificar as mudanças que podem ocorrer no transporte de poeira da África devido às mudanças climáticas", comenta Prospero.
A Bacia Amazônica tem um papel fundamental no clima global. Árvores e plantas na Amazônia removem grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera e armazenam o carbono na vegetação. Essa remoção compensa parte do CO2 produzido pelo homem, emitido para a atmosfera e atenua o impacto do CO2 no clima global.