Pompeo esteve em Boa Vista na sexta-feira (18) e teve agenda com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e visitou a Operação Acolhida, iniciativa brasileira de recepcionamento de venezuelanos que deixam o país.
Em tour pela América do Sul, Pompeo afirmou que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é um "traficante de drogas" e que Washington deseja que a Venezuela "tenha uma democracia".
Quando a viagem internacional do chefe da diplomacia dos Estados Unidos foi anunciada, contudo, as primeiras informações davam conta apenas de visitas a Suriname e Guiana, países que descobriram consideráveis reservas de petróleo nos últimos anos. O itinerário foi ajustado posteriormente para acomodar a presença no Brasil e também na Colômbia, outro país que faz fronteira com a Venezuela.
Nesta segunda-feira (21), os Estados Unidos anunciaram sanções contra Maduro.
Para o professor de relações internacionais da Faculdade de Campinas (Facamp) Pedro Costa Júnior, Pompeo fez duras críticas a Maduro em busca do "voto crucial" dos latinos da Flórida, que é um dos chamados swing states da eleição — regiões dos Estados Unidos sem preferência partidária definida e que são importantes para a definição do próximo presidente.
"Dessa maneira, essa visita do secretário de Estado é um recado para essa comunidade [latina] que está sempre muito atenta, cujos imigrantes são, em sua esmagadora maioria, cubanos, frutos da Revolução Cubana, desde a Guerra Fria e, mais recentemente, nos últimos anos, venezuelanos", diz Júnior à Sputnik Brasil.
Com 29 delegados no Colégio Eleitoral, a Flórida é um ponto central na corrida presidencial dos Estados Unidos e as últimas pesquisas apontam um cenário apertado.
A presença de Pompeo no Brasil rendeu críticas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que classificou o episódio como uma "afronta" das tradições da diplomacia brasileira. O chanceler brasileiro reagiu e divulgou nota defendendo a decisão do Itamaraty.
Assim como os Estados Unidos, o Brasil reconhece o autodeclarado presidente Juan Guaidó como líder legítimo da Venezuela. Guaidó já foi, inclusive, recebido como chefe de Estado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Brasília.
O professor da FACAMP acredita que Bolsonaro faz mais do que um "alinhamento automático" com os Estados Unidos e coloca o Brasil em posição de "verdadeira vassalagem" ao governo de Trump. "É uma opção deliberada jamais vista na história das relações exteriores", avalia.
"O Brasil volta a falar fino, parafraseando Francisco Buarque de Hollanda, volta a falar fino com os Estados Unidos e a falar grosso com seus vizinhos", diz Júnior.